Setembro 30, 2024

PB tem mais de 40 mil moradias sem banheiro, diz IBGE; 'Ninguém quer passar isso', diz mulher

Ter um banheiro em casa parece algo simples e comum, mas não para todas as pessoas. Na verdade, para algumas famílias essa realidade é distante, ainda que represente uma necessidade básica de qualquer pessoa. Somente na Paraíba pelo menos 40.680 de casas não têm banheiro, conforme pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019. O número corresponde a um percentual de 3,10% das moradias paraibanas.

Isailda Agostinho mora em João Pessoa, no bairro Padre Zé. Ela divide a casa com duas netas e contou que, por não ter banheiro em casa, ela e as netas fazem as necessidades fisiológicas na área externa da casa.

"Minhas necessidades eu faço aqui mesmo no 'pé' da lavanderia porque não tenho condição de fazer em outro canto. Não vou sair da minha casa para ir para a casa da minha irmã todos os dias. Meu sonho é fazer um banheiro. A gente não precisar mais sair para fazer as necessidades em um pote de margarina fora de hora. Ninguém quer passar isso que eu estou passando".

Severino Marcolino, reside no bairro Novaes, também em João Pessoa, e está desempregado. A casa dele não foi concluída por falta de dinheiro e, por isso, ele não tem banheiro na residência. Com a qualidade de vida que todo ser humano merece comprometida, sempre que precisa usar o banheiro, Severino precisa ir até a casa de um vizinho.

"As vezes as pessoas ficam xingando ou com cara feia. Não querem que use o sanitário deles. O 'cara' fica chateado demais", relatou.

O Instituto Trata Brasil mostrou através de um levantamento com dados IBGE, também em 2019, que no Brasil existem 1,6 milhão de residências sem acesso ao banheiro, ou seja, uma estimativa de mais de 5 milhões de pessoas.

Ainda em relação às moradias sem banheiro, a situação mais delicada também é no Nordeste, onde quase 965 mil casas estão desprovidas de um banheiro.

De acordo com o médico sanitarista, Felipe Proenço, em entrevista ao Jornal Hoje, a falta de banheiros é um grande problema de saúde pública. "Uma série de doenças que são prevenidas por boas condições de esgotamento e por acesso ao banheiro vão acabar acontecendo exatamente por essa falta de um equipamento tão importante", disse.

Além do problema com a falta de banheiros, o cenário do saneamento básico no país ainda é muito ruim com cerca de 35 milhões de pessoas sem água potável, mesmo em meio à pandemia da Covid-19, e quase 100 milhões estão sem coleta dos esgotos. Somente 49% dos esgotos gerados no país são tratados, o que equivale a jogar todos os dias na natureza uma média de 5,3 mil piscinas olímpicas de esgotos sem tratamento.

Vale também dizer que essa precariedade não é só uma questão de saúde pública, mas gera impactos econômicos, profissionais e na educação, sobretudo na vida de meninas e mulheres que são obrigadas a faltar na escola ou no trabalho durante o período menstrual. É o mínimo que não só não é oferecido. O básico é impedido de chegar às pessoas, e, principalmente, às mulheres.

O problema vai além das casas, pois 4,3 mil escolas públicas no Brasil não têm banheiro, de acordo com o Censo Escolar da Educação Básica, do Ministério da Educação (MEC), ou seja, não oferecem condições básicas para que as alunas e alunos se sintam confortáveis durante o período em que estão estudando, gerando evasão escolar e dificultando a inserção de mulheres vulneráveis no mercado de trabalho no futuro.

Dados do Ministério da Saúde ainda mostram que a ausência da infraestrutura sanitário no Brasil gerou mais de 270 mil internações em 2019, ano pré-pandemia, com notificações de doenças diarreicas, dengue, leptospirose, esquistossomose, entre outras.

g1 PB
Portal Santo André em Foco

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