Preocupados pela fé
Tudo anda tão rápido, que as preocupações estão sempre correndo em nossa frente. O cotidiano do viver atual parece não ter mais chão para firmar os pés e nem nos deixar dormir sonos tranquilos. Tem-se a impressão de que a carroça passou à frente dos bois e anda meio desgovernada. O elenco das preocupações pessoais, familiares, sociais, eclesiais etc. parece confirmar aquele provérbio popular que diz: “Se correr o bicho pega, se parar o bicho come!”
Dentro de tantas preocupações pelo imediato da vida, como: o alimento, a saúde, o estudo, o trabalho, a moradia e outras, ainda vale a pena investir na preocupação pela fé? O mundo do circunstancial é tão envolvente e ocupa tanto nossos horários do dia e da noite que as questões fundamentais da vida parecem não ter maior relevância. Com facilidade relega-se ao esquecimento o que deveria ser lembrado como essencial do viver humano.
Há alguns dias ouvi de uma pessoa, aparentemente culta, esta frase: “Fé não dá dinheiro”. Em contrapartida, um outro vadio inventou uma igreja do tamanho dos seus interesses, convencido de que “religião dá muito dinheiro”. Não me cabe fazer juízo, nem de um, nem do outro. Porém, é certo que os dois representam o pensamento de muitos.
Com o que vale a pena nos preocupar? “Fé não dá dinheiro!” Certamente não dá resultados imediatos e nem garante prestígio, nem poder e nem certos prazeres. Além do mais a autêntica fé, ao exigir obras e doação, fica realmente incômoda para quantificar resultados. A quinta Campanha da Fraternidade de 1968 teve como lema: “Crer com as mãos”. O cartaz trazia uma mão aberta, revelando atitude de generosidade em todos os sentidos. Ali a frase do amigo poderia ser verdadeira, se dissesse: “A fé dá dinheiro também!” Este “dar” se tornaria o gesto de uma fé cristã que passa da mente para o coração e do coração para as mãos.
Hoje, talvez, a fé pode não mais preocupar multidões. A fé que se vê desalojada de muitas instituições, pode ser tirada da lista das preocupações imediatas, porém, ninguém a tira das profundezas do ser. O coração é maior que a inteligência. E como diz Pascal, “é o coração que sente Deus e não a razão”. Com esta e outras conclusões, penso ser melhor substituir “preocupação pela fé” por “ocupação com a fé”. A fé não é intermitente, mas é uma constante no viver humano. Ocupados com a fé, deixamos permanentemente a luz acesa na trajetória humana, a fim de que nenhum abismo nos surpreenda.
“E a religião dá muito dinheiro?” Para os mal-intencionados, a boa fé das pessoas pode ser um grande campo de exploração. Se um fulano funda uma “religião”, não significa que o faça em nome da fé, mas geralmente o faz movido por interesses imediatos seus. Nesse tipo de visão a religião passa a ser um negócio que enriquece alguns e empobrece a tantos, enganados por milagres fáceis. Aliás, há estudos atuais que provam ser este um caminho para os que vão se desiludindo e vão aumentando o número dos descrentes.
Frei Luiz Turra, ‘No Coração da Vida’, Programas Radiofônicos Vol. 01.
comece o dia feliz
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