Superando a indiferença
Não nascemos indiferentes, mas podemos nos tornar indiferentes, assim como ninguém nasce mau, mas pode se tornar. Há situações que acompanharam a nossa concepção ou gestação que podem marcar nossa personalidade, mas tudo na vida pode ir se potencializando conforme os rumos de nossos caminhos. É grande a influência dos modos de vida, cultivados no cotidiano, daqueles de quem dependemos na infância e dos que convivemos na adolescência e na fase adulta da vida.
A indiferença é esse estado de insensibilidade humana, e negação silenciosa e subliminar na relação com Deus. Bem na raiz da indiferença há um mecanismo de defesa errado, de quem se fecha imaginando sobreviver no seu mundo como se fosse o tudo diante das relações negadas. O indiferente não diz, mas poderia dizer: “Meu EU e meu tudo”. Em contrapartida, São Francisco foi aprendendo a superar toda a forma de indiferença, desde que começou a proclamar: “Meu Deus e meu tudo!”.
Sendo sinceros conosco mesmos, podemos afirmar que todos corremos o risco de nos tornar indiferentes, pois o somos em potencial. Porém, um dia depois do outro, podemos treinar a superação da indiferença pelo exercício da sensibilidade. Há uma norma ética reconhecida universalmente que o próprio Cristo nos ensinou: “Tudo quanto desejais que os outros vos façam, fazei-o vós a eles. Isto é a lei e os profetas” (Mt 7,12).
Um bom exercício de superação da indiferença pela solidariedade é aprender a nos colocar no lugar do outro, imaginando como nós gostaríamos de ser vistos e tratados se estivéssemos em seu lugar. Não é por nada que ao responder a pergunta do Doutor da lei sobre o que era o mais importante na lei, Jesus disse ser o amor a Deus, acima de tudo, e do próximo como a si mesmo.
A indiferença nas relações humanas pode ser causa de indiferença no exercício das demais relações, desde o descaso ecológico como o pior modo de ateísmo. A indiferença também não é neutra. Não vale aqui a avaliação do “tanto faz”. A indiferença é sempre prejudicial e nociva, tanto ao indiferente como aos desconsiderados.
Quanto à indiferença na relação com Deus, lembro-me de um fato que ajudou a um jovem superá-la. Ele sofria por não crer, mas não se animava a crer. Num dia resolveu visitar um sábio ancião que residia no interior. Lá falou-lhe de sua indiferença religiosa. O Ancião o tomou pela mão e foi em direção a um açude. Ambos iam entrando na água até o lugar mais profundo. Ali agarrou o pescoço do jovem e o afundou, mantendo-o por um tempo imerso na água. O jovem esperneava e se debatia até que o ancião o retirou. Ao sair, o sábio perguntou: “Do que estavas necessitando debaixo da água?”. O jovem respondeu: “De ar!”. Conclusão: “Até não te dares conta de que Deus é a vida de tua vida, dificilmente vais superar a indiferença!”.
Na verdade, é mergulhando nas profundezas da existência humana que iremos encontrar o argumento mais lógico e evidente para empreendermos a superação da indiferença, tanto humana como religiosa. Não podemos negar a nós mesmos!
Frei Luiz Turra, ‘No Coração da Vida’, Programas Radiofônicos Vol. 03.
comece o dia feliz
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