A louca teimosia de se enganar
Geralmente nos intrigamos com quem nos engana. Sentirmo-nos enganados e traídos é uma agressão que nos atinge naquilo que é muito sagrado, isto é, o direito de integridade. Os enganos são sempre atentados que roubam em nós algo que prezamos. Toda investida enganadora é uma usurpação de nossa dignidade.
Temos muita facilidade de acusar quem nos engana. Criamos mecanismos de defesa para que ninguém invada nossa privacidade e nossa liberdade. Às vezes, nos armamos tão fortemente que nos permitimos o direito de nos enganar e nos achamos vítimas de todos, menos de nós mesmos.
A louca teimosia de nos enganar sempre acusa os outros como agentes de nossas amarguras e insucessos. Criamos couraças em torno de nós; projetamos imagens perfeitas de nossa identidade por conveniência e, às vezes tentamos até negociar com Deus nossos enganos para salvar nossas aparências. Já vi cidadãos, em tempo de política, frequentarem a Igreja, com alto estilo de piedade, para dizerem-se de bem com Deus e conquistarem o voto do povo.
O Evangelho tem páginas vivas, que registram a louca teimosia de se enganar. Uma delas é a parábola do fariseu e do publicano. O fariseu pôs-se em oração diante de Deus para louvar enganosamente a si mesmo. Desenhou uma imagem perfeita de um elegante sepulcro, escondendo a podridão que estava dentro dele. Este voltou para casa pior do que quando chegou. O publicano, ao contrário, abriu-se na sinceridade e se expôs assim como era diante de Deus. Este voltou para casa justificado (cf. Lc 18,9-14).
Outra página evangélica que denuncia a louca teimosia de se enganar é a parábola do homem rico que, diante da abundante colheita, manda demolir os celeiros antigos e pede que se construa tudo novo. Dizia a si mesmo: “Tens uma boa reserva... descansa, come, bebe, goza a vida!”. Mas Deus lhe diz: “Tolo! Ainda nesta noite tua vida será tirada...”
Em menor ou maior proporção, a louca teimosia de se enganar pode ser também a nossa tentação. Tantas vezes, sabemos o caminho e preferimos atalhos. Tantas vezes, temos clareza do que é justo e tropeçamos em injustiças no trato conosco mesmos, com os outros, com a natureza e com Deus. A busca da justa medida é o sábio caminho de quem busca superar a louca teimosia de se enganar.
Conta-se que Alexandre, príncipe e rei da Macedônia, antes de morrer chamou os súditos e expressou seus três últimos pedidos:
1º) Que os mais eminentes médicos da época carregassem o seu caixão para que não se enganassem que têm o poder de cura perante a morte.
2º) Que todos os seus tesouros conquistados em vida fossem espalhados no caminho até o cemitério, lembrando que os bens materiais aqui conquistados, aqui permanecem.
3º) Que o colocassem no caixão com as duas mãos expostas, balançando ao vento, para que ninguém se enganasse e todos se lembrassem que de mãos vazias viemos e de mãos vazias partimos. Só levamos o amor traduzido em obras de misericórdia.
Somos o que somos diante de Deus.
Frei Luiz Turra, ‘No Coração da Vida’, Programas Radiofônicos Vol. 03.
Wikipédia
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