Não há povo sem festa
Diante de tantos problemas e angústias do nosso tempo, tive a tentação de deixar de escrever sobre o fenômeno da festa. Porém, pensando mais, dei-me conta de que a festa é uma necessidade incontida para a pessoa, para os grupos e para um povo. Não existe povo que não tenha festas. Estas retratam uma cultura e também os ideais de um povo.
Há algum tempo, ouvi o comentário de um palestrante dizendo que a festa seria um fenômeno em extinção, assim como a religião. A evolução científica e técnica, o espírito de produção e o desenvolvimento haveriam de ocupar e encantar tanto que não se teria mais tempo nem desejo de fazer festa. Como a festa faz parte da dimensão gratuita da vida, seria tempo perdido investir numa atividade não lucrativa.
Esta previsão do palestrante não parece ser verdadeira. Ao contrário, a dimensão festiva da vida e da convivência volta, com toda a força, a ganhar atualidade como reação à frieza das relações humanas e o descaso das relações primárias, como meio de libertação da escravidão do trabalho e como busca de caminhos de liberdade. Tem-se necessidade de oxigenar o cotidiano com momentos especiais, com possibilidades de rir e falar de coração a coração e brindar a vida com sua beleza.
Uma das realidades que vai tirando o brilho da vida é a rotina, e a rotina vai matando as melhores aspirações de uma pessoa. A monotonia do trabalho também oprime quando não permeada pela experiência da festa. Uma das justas e principais motivações da festa vem da possibilidade do descanso entre as tarefas cotidianas. A festa traz consigo uma mudança de atividade e de horizonte.
A Bíblia salienta a necessidade da festa para humanizar a vida das pessoas. O descanso serve de alívio e estímulo para retomar o trabalho com novo entusiasmo e eficácia (cf. Ex 23,12; Dt 5,13ss). No pensamento bíblico, a festa não é só uma parada no trabalho e uma ocasião de descanso. A festa é também exultação e alegria por ser uma experiência de amplidão da vida, de um novo sabor, causando ânimo e entusiasmo.
Assim eram as festas primitivas das colheitas e das primícias dos rebanhos. É claro que a Bíblia não deixa de acenar para os perigos que surgiam dos cultos dos pagãos, onde os exageros da bebida e outros abusos danificavam a vida. O pecado de Israel se relaciona com as celebrações destas bacanais (cf. Ex 32,6; Nm 25,1ss).
O povo de Deus viveu num tempo marcado pelo caráter agrícola e cultivou festas próprias desta cultura. No entanto, o verdadeiro culto ao Deus Javé deu um sentido novo e profundo ligado à história da salvação. Assim, a vivência das festas religiosas representa para o povo de Israel a memória dos prodígios de Deus que continuam se fazendo presente. Aqui a festa resume toda a história da salvação. Não há povo sem festa! A vida merece respirar a experiência da gratuidade e da beleza.
Frei Luiz Turra
Pesquisa: Arimatéa Porto
COMECE O DIA FELIZ
Portal Santo André em Foco
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