A fé humana e a fé religiosa
Fé humana e fé religiosa interagem, se ajudam e se qualificam uma à outra, não se contrapõem. Por vezes temos a tendência de pensar que fé só interessa no âmbito da religiosidade, imaginando que ela não circula entre as coisas da vida por aqui, no chão de nosso viver. Na verdade, nossas relações interpessoais necessitam fortemente da fé para se tornarem verdadeiras, humanas e humanizantes.
A fé humana joga com a necessária confiança. Na confiança nos abrimos aos outros com mais segurança. A desconfiança é sempre uma antecipação de juízo que nos distancia dos outros e pode nos levar ao isolamento. Na vida real é preferível deixar-se enganar por confiar, do que viver desconfiando de todos e morrer na solidão.
A fé religiosa busca assegurar-se na relação com Deus, como raiz primeira e última de nossa existência. Esta fé religiosa, antes de ser uma ideia é uma experiência envolvente, decorrente de nosso próprio viver. Aos cidadãos de Atenas, no meio do Areópago, Paulo proclama: “Deus não está longe de cada um de nós. Nele vivemos, nos movemos e existimos!” (At 17,27b-28).
A adesão pessoal ao outro é indispensável para a vida. Nós não podemos nos imaginar desvinculados, numa redoma de isolamento. Viver é comunhão! Todo o nosso ser, desde a configuração do corpo, está voltado para o outro. Nossos sentidos são janelas de comunhão, graças à qual a vida se torna significativa e irradiante. Por meio da fé, a pessoa rompe com sua solidão, sente-se motivada para as tarefas mais árduas, pois assim nosso viver se torna útil e significativo.
A fé humana e a fé religiosa nos fazem caminhar no terreno da esperança. Quando se confia plenamente em alguém, espera-se dele algo importante para o futuro. Assim deveria ser a união conjugal na edificação de um lar. Evidentemente, essa confiança presente e futura não pode se dar sem o amor. Fé, esperança e amor não são três virtudes e atitudes diversas, mas três aspectos da unidade interpessoal, graças à qual, a vida se torna relevante e atraente.
A experiência da fé humana pode se tornar um pressuposto aberto e favorável à fé religiosa, quando for bem cultivada e verdadeira. Por exemplo: para uma criança que põe fé no pai e na mãe e é correspondida na fidelidade, não é difícil ir passando para a fé religiosa em caminho de serena normalidade. Porém, para uma criança que vive a experiência de fé humana traída e rompida em seus pais, o clima de revolta e decepção vai dificultar muito no exercício da fé religiosa.
Na medida em que a fé religiosa vai favorecendo um processo de conversão ao Deus vivo e verdadeiro, também vai firmando e aperfeiçoando a fé humana. A pessoa que assim se cultiva, vai se tornando sempre mais confiável e capaz de oferecer confianças em suas múltiplas relações. Os santos e santas não passam a ser anjos ou seres extraterrestres. Quanto mais cultivam a santidade, mais humanos e humanas se tornam; e quanto mais humanas, mais transparecem o Divino.
Frei Luiz Turra
Pesquisa: Arimatéa Porto
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