O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 0,4% no 3º trimestre deste ano na comparação com os três meses imediatamente anteriores, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (1º) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado confirma os sinais de desaceleração da economia brasileira, e a expectativa do mercado é que a atividade tenha um crescimento mais tímido no ano que vem. Segundo o último relatório “Focus”, divulgado na segunda-feira (28) pelo Banco Central do Brasil(BC), a estimativa é que o PIB cresça apenas 0,70% em 2023.
Mas o que justifica a queda no crescimento?
Para o economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, André Galhardo, a principal causa dessa desaceleração é a restrição ao crédito, limitado por uma Selic (taxa básica de juros) a 13,75% ao ano.
“O Brasil tem a taxa real de juros mais alta do mundo, que deve ficar ainda mais elevada com o processo de desinflação em curso. Isso inibe os investimentos em produção, o consumo e impacta a economia de forma negativa”, explica.
Os indicadores de confiança de setores produtivos também reforçam essa preocupação, com sondagens mostrando queda no otimismo dos empresários e dos consumidores, diz Galhardo. Ele lembra que isso ocorre mesmo em um cenário em que o país ainda registra crescimento – reflexo, entre outros pontos, da injeção de recursos por meio de auxílios concedidos pelo governo.
“O ciclo virtuoso promovido pela melhora do mercado de trabalho e o consequente consumo de serviços também deve se esvaziar, principalmente, a partir do primeiro semestre do ano que vem”, projeta. “O comércio varejista deve ser impactado negativamente pela taxa básica de juros, enfraquecido diretamente pela concessão de crédito mais caro.”
Entre os efeitos tardios das últimas elevações de juros feitas pelo Banco Central, os economistas também destacam a provável piora da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), indicador que mede o quanto as empresas aumentaram os seus bens de capital (como máquinas, equipamentos e materiais de construção) em um determinado período.
Para a economista da Neo Investimentos Laura Moraes, qualquer avanço que tenha sido impulsionado pela reabertura da economia no país já deve ter acabado no segundo semestre de 2023 e a política monetária local estará no momento com maior impacto sobre atividade.
“Mesmo que o Banco Central corte juros no próximo ano, como é esperado por alguns economistas, não vai ser a tempo suficiente para estimular a atividade ainda em 2023, pois, como sabemos, a transmissão da política monetária para a atividade econômica é defasada”, afirma.
As incertezas sobre as contas públicas também influenciam?
Outro fator que também pode influenciar na atividade econômica do próximo ano são as contas do governo, tema que agora está no centro das atenções do mercado. Até o momento, a principal espera é pelo texto final da Proposta de Emenda á Constituição (PEC) da Transição. A PEC, que prevê um estouro de cerca de R$ 198 bilhões fora do teto de gastos em 2023, já aguarda pela análise da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.
“O volume de gastos permitidos pela PEC da Transição traz um risco, em nossa visão, caso ocorra uma piora na percepção de risco fiscal por parte dos investidores. Isso elevaria as taxas de juros locais e depreciaria o câmbio, o que resultaria em maior inflação, juros altos por mais tempo e, consequentemente, um menor crescimento”, explica o economista-chefe da nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi.
Por outro lado, ele destaca que caso o texto final da PEC preveja um estouro menor do teto de gastos, há chances de que o Banco Central consiga cortar a Selic, abrindo espaço para uma possível melhora nas perspectivas de juros. “A interação entre as políticas fiscal e monetária será o principal fator para a performance da economia em 2023”, acrescenta Borsoi.
E o cenário externo?
Não é apenas o ambiente interno que pode influenciar a economia brasileira. Segundo os economistas consultados pelo g1, apesar de indícios de arrefecimento da inflação nos Estados Unidos e na Europa, a China ainda preocupa. A economia do país segue desacelerando, em meio ao avanço da Covid-19 em território chinês.
Segundo Galhardo, os casos da doença no país indicam que o governo pode endurecer ainda mais as medidas de contingenciamento e distanciamento social, o que tende a fazer com que a economia da região desacelere ainda mais.
Nesse caso, o impacto para o Brasil viria pelo comércio internacional. A desaceleração pode acabar diminuindo a demanda do gigante asiático, que é o maior comprador de commodities no mundo, e afetar a balança comercial brasileira. E isso sem contar a possível retração da oferta por parte da China, que também resultaria em uma importação mais cara.
Além disso, outro ponto citado pelos economistas é a continuidade da guerra na Ucrânia, que pode ampliar os gargalos produtivos no mundo inteiro, além do aumento da taxa de juros nos EUA, que deve promover, na economia norte-americana, o mesmo movimento esperado no Brasil: um processo de desaquecimento mais robusto.
“Então, no mercado doméstico, temos uma fraqueza econômica promovida pelos juros e incertezas políticas. Fora, há um cenário muito desafiador, que inclui a China, nosso principal parceiro comercial. Também uma situação muito delicada na Europa e nos Estados Unidos. Tudo isso faz com que a gente acredite em um processo de desaquecimento da economia brasileira no ano que vem”, analisa Galhardo.
g1
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