O médico paraibano Kauê Queiroz de Seabra é investigado pela Polícia Civil por violência doméstica contra a ex-mulher. Vídeos que o g1 teve acesso nesta terça-feira (12), com imagens registradas em 2021, 2022 e 2023, mostram as cenas de agressão, que aconteciam no apartamento em que eles moravam, no bairro de Manaíra, em João Pessoa. O processo foi aberto após a vítima prestar um boletim de ocorrência, no dia 1º de setembro de 2023.
No total foram três vídeos, que constam nos autos do processo. Em um deles, de 2022, o médico aparece cuspindo no rosto da vítima, após uma discussão, no quarto do casal. No segundo vídeo, gravado no mesmo quarto, em 2021, ele aparece com uma arma e atirando pela janela do apartamento. Já o terceiro foi registrado no dia 31 de agosto de 2023. O casal aparece discutindo na cozinha e, em seguida, o suspeito aparece empurrando a vítima.
Em nota assinada pelos advogados Aécio Farias e Ravi Vasconcelos, a defesa de Kauê Seabra informa que ele nega que tenha cometido qualquer lesão corporal contra a ex-esposa. Os advogados alegam ainda que a vítima teria sido “diagnosticada com síndrome de borderline”, e que tinha “surtos psicóticos”. Ainda diz que as medidas protetivas requeridas pela vítima estão sendo cumpridas pelo médico.
Nesta terça-feira, os advogados Rinaldo Mouzalas e Diego Cazé, que representam a vítima, dizem que o “pseudo diagnóstico de quadro de ‘borderline’, tenta desqualificar a vítima, em notória retaliação às notícias de que ele responde a um inquérito”, e que isso “reforça o quadro de violência moral” sofrido pela vítima. Os advogados dela dizem ainda que isso se caracteriza um novo crime, e que o caso vai ser comunicado à Justiça.
Agressão mais recente motivou investigação
O caso mais recente de agressão teria acontecido entre os dias 31 de agosto e 1º de setembro de 2023. A vítima, que também é médica, relatou que Kauê chegou em casa de madrugada, embriagado, e com várias latas de cerveja para beber. Ela teria feito um relato sobre o vício em bebida prejudicar as famílias, e que, por causa disso, ele a xingou. A vítima relatou que ficou com medo e tentou ir para o quarto, quando ele a interceptou, intimidando com o próprio corpo, e a agrediu com empurrões e apertos no braço. Estas seriam as agressões registradas no terceiro vídeo.
A mulher ainda relatou que conseguiu escapar e se trancou no quarto, com o filho mais velho do casal, de cinco anos. Em seguida, o suspeito disse que ia apagar o HD com as imagens da agressão, e que ela não permitiu. Foi então que ela saiu do quarto e teria sido vítima de uma nova agressão, desta vez batendo em uma quina de uma porta após um empurrão. Foi então que ela relatou que abriu a porta da varanda e gritou por ajuda.
Pedidos de socorro ouvidos por vizinhos
Os gritos de socorro feitos pela vítima na madrugada do dia 1º de setembro foram ouvidos por vizinhos, tanto do mesmo andar quanto de andares superiores do condomínio. O g1 teve acesso ao termo de depoimento de um destes vizinhos, que relatou o que ouviu na madrugada.
No documento, o vizinho relata que, por volta das 1h30, ouviu gritos de socorro. Ele foi até a janela, abriu, e conseguiu identificar que vinham do apartamento onde a vítima morava. Segundo o morador, que reside no edifício desde 2021, as brigas no apartamento de Kauê e da vítima eram recorrentes.
Ele também relatou que dias após o caso conversou com a síndica do condomínio e que ela relatou que também ouviu os pedidos de socorro e a discussão, que também foi confirmada por outros moradores.
O vizinho relatou, ainda, que sabe que o médico tem uma arma de fogo, mas que não sabe se ele tem porte da arma. Ele diz ainda que Kauê frequentemente se vangloriava, no grupo de moradores no WhatsApp, de que dormia com a arma embaixo do travesseiro. Apesar de relatar que nunca ouviu disparos, o vizinho disse que outros moradores confirmaram que já ouviram o suspeito atirando pela janela, conforme vídeo de 2021.
No dia 1º de setembro, a vítima prestou boletim de ocorrência na Polícia Civil e foram pedidas medidas protetivas, concedidas pela Justiça. Desde então, o suspeito está proibido de ingressar na residência da vítima, e de se aproximar ou se comunicar com ela, pessoalmente ou virtualmente, pelo período de 180 dias.
Relatos de violência patrimonial, moral e psicológica
A vítima está em processo de separação do médico, após uma relação de seis anos, e que gerou dois filhos. Segundo testemunhas ouvidas pela polícia, as agressões começaram desde que eles se casaram, e além da violência física, também há relatos de violência patrimonial, moral e psicológica.
Conforme o advogado da vítima, as lesões a vítima era obrigada a repassar para Kauê toda a remuneração de trabalho dela, para que ele controlasse as finanças do casal, de forma que sempre que ela precisava de dinheiro para qualquer coisa, precisava pedir a ele.
Além disso, existem relatos de violência moral e psicológica, uma vez que ele a agredia verbalmente, com xingamentos, tanto em casa quanto publicamente. Ainda conforme a defesa, a vítima era proibida de falar com familiares, e também era ameaçada com arma de fogo dentro de casa.
O caso está sendo investigado pela Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher de João Pessoa. Vítima, suspeito e testemunhas já foram ouvidas, e os advogados aguardam o resultado do inquérito. O g1 não conseguiu entrar em contato com as delegadas responsáveis pelo caso para saber o status atual da investigação.
g1 PB
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