Novembro 24, 2024

'Famintos': Conversa interceptada pela PF aponta que empresário da PB pagava propina a professor

Um conversa por meio de ligação telefônica revela o pagamento de uma suposta propina para um professor por um empresário investigado na Operação Famintos. A investigação desarticulou um esquema de fraudes em licitações e desvio de verba na merenda escolar em Campina Grande. No diálogo, interceptado pela Polícia Federal, o professor de uma escola pública diz que recebe quase R$ 700 por mês do fornecedor dos produtos da escola. A gravação foi feita, com autorização da Justiça, em maio deste ano.

Durante o diálogo, o professor pede ao empresário um aumento no valor recebido. Ele diz que precisa que o empresário aumente a suposta propina para R$ 1 mil, alegando que o valor aumentado será repassado para um colega de trabalho. O colega, de acordo com a gravação, teria auxiliado o professor no processo de reeleição para o conselho escolar.

  • Professor: Eu queria fazer um pedido ao amigo.
  • Empresário: Diga lá.
  • Professor: Olhe, eu ganhei de novo a eleição a duras penas. Eu vou ficar mais dois anos.
  • Empresário: Ô coisa boa.
  • Professor: A partir de setembro termina esse meu mandato… Aí, o que é que acontece… Tu sabe que sou muito verdadeiro contigo.
  • Empresário: Humhum.
  • Professor: Eu tive um apoio de um professor que é meu vice-presidente do conselho. Muito forte lá.
  • Empresário: Ahnhã.
  • Professor: Pra me poder me permanecer lá, tudo isso.
  • Empresário: Hum.
  • Professor: Aí, não tem aquele negocinho da carne que você me dá todo mês?
  • Empresário: Hum.
  • Professor: Aquela diferençazinha que dá quase setecentos reais?
  • Empresário: É.
  • Professor: Aí, eu queria saber de você se era possível fechar umas comprinha de mil todo mês?
  • Empresário: A gente vai e aumenta lá… alguma coisinha que seja lá.
  • Professor: Porque eu pegava, eu dava um negocinho a ele, sabe?
  • Empresário: Pronto. Eu boto e dou uma aumentada nas compras lá, fecha no negócio lá.
  • Professor: É, porque assim, é… setecentos, mais ou menos já dá de carne, né? A diferençazinha que tu me dá.
  • Empresário: É, a gente aumenta na nota, porque eu não posso dar mais do que esse valor não. Eu já tô dando muito, que ninguém
    dá isso não.
  • Professor: É, aí, eu…
  • Empresário: Só quem dá isso, só quem dá isso sou eu. Ninguém dá não, viu.
  • Professor: É, eu sei. Aí eu vou pegar, eu vou. Tem que dar uma ajuda a ele, sabe? Todo mês dar um negocinho a ele.
  • Empresário: Pronto. Tá bom. Ok.
  • Professor: Aí, quando tu me repassar o negócio… no mês, eu repasso pra ele também.
  • Empresário: Ok. Pois tá bom.

O professor que estaria na ligação telefônica com o empresário não está sendo investigado na Operação Famintos. Já o empresário, alvo do suposto pedido de propina, é identificado nos relatórios da Polícia Federal como sendo Severino Roberto Maia de Miranda, denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por envolvimento no suposto esquema de fraudes na compra da merenda escolar em Campina Grande.

Na manhã desta sexta-feira (20), o G1 tentou contato com o advogado do empresário Severino Roberto Maia de Miranda, mas as ligações não foram atendidas.

Conversas apontam articulação para fraude
Em outras conversas interceptadas pela Polícia Federal, durante as investigações da Operação Famintos, o grupo de empresários investigado articulava a participação em licitações para o fornecimento de merenda escolar em Campina Grande.

Os diálogos fazem parte do processo que tramita na 4ª Vara da Justiça Federal da Paraíba. Em alguns casos, gestoras escolares se mostram confusas no momento de efetuarem os pagamentos, já que nem sempre as pessoas responsáveis pelas empresas eram as mesmas que administravam os empreendimentos no papel.

Na conversa interceptada no dia 14 de maio deste ano, dois empresários investigados na Operação falam sobre licitações que ocorreriam na Secretaria de Educação do município. Uma delas teria o valor superior a R$ 1 milhão.

Operação Famintos
A Operação Famintos foi desencadeada no dia 24 de julho em Campina Grande e outras cidades da Paraíba. Polícia Federal, Ministério Público Federal e Controladoria-Geral da União investigam um suposto esquema de desvios de recursos federais do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), geridos pela Prefeitura de Campina Grande. O prejuízo ultrapassa R$ 2,3 milhões.

Segundo o MPF, foi instaurado um inquérito para apurar supostos delitos relacionados a licitações e contratações fraudulentas no município de Campina Grande, principalmente na Secretaria de Educação, envolvendo empresas de fachada e desvio de verbas provenientes de programas federais para compra de merenda escolar.

Em despacho que autorizou os mandados de prisão temporária e de busca e apreensão, o juiz da 4º Vara Federal de Campina Grande, Vinícius Costa Vidor, afirma que se observa a presença de uma organização criminosa voltada à prática, especialmente, de crimes contra a administração pública, onde empresários, servidores e secretários estão envolvidos.

G1 PB
Portal Santo André em Foco

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