As incertezas sobre os rumos das contas públicas no Brasil voltam a sustentar a alta dos juros futuros nesta quarta-feira (11). O movimento acontece depois de declarações do presidente Jair Bolsonaro que elevaram a ansiedade sobre decisões que precisam ser tomadas nas próximas semanas sobre a política fiscal.
Ontem, o presidente demonstrou preocupação com impacto do fim do auxílio emergencial em parte da população. Embora o governante estivesse falando sobre o risco de novas medidas de distanciamento social devido à Covid-19, os comentários foram interpretados como uma preferência em estender o programa de socorro.
Com isso, as taxas dos contratos de DI operam em alta desde cedo, junto com desvalorização de moedas emergentes. Por volta das 12h30, o rendimento do DI para janeiro de 2025, por exemplo, subia de 6,50% para 6,63%.
Na avaliação de Pedro Dreux, sócio e gestor da Occam, o discurso do presidente ontem a tarde relembrou o mercado de quais são as preferências do governo: extensão dos auxílios no primeiro semestre de 2021. Houve contraste com o otimismo no cenário externo gerado pela vitória de Joe Biden nas eleições americanas e avanços com relação a vacina contra o novo coronavírus.
“O mercado estava dando o beneficio da dúvida durante essas semanas de silêncio do Bolsonaro, numa crença de que passadas as eleições regionais, a agenda de reformas voltaria a cena. Mas ontem a verdade veio a tona mais uma vez. A piora do mercado hoje é uma incorporação de uma maior probabilidade de medidas extra teto no ano que vem”, alerta o profissional.
De acordo com o estrategista Vinicius Alves, da Tullet Prebon, o presidente Jair Bolsonaro fez uma série de afirmações ontem que elevam a cautela no mercado. Para ele, houve falta de "elegância diplomática" e de preocupação com a agenda ESG, que é bastante importante no momento e vem sendo bem relevante para fluxos estrangeiros. Em termos econômicos, deu sinais da dificuldade de tirar o auxílio emergencial.
Ontem, o presidente disse, por exemplo, que “apenas diplomacia não dá. Depois que acabar a saliva tem que ter pólvora. Não precisa nem usar a pólvora, tem que saber que tem”. Os comentários foram feitos ao ironizar o presidente eleito nos EUA, Joe Biden, que ameaçou o Brasil com sanções por conta da devastação na Amazônia.
As falas de Bolsonaro e a preocupação dos investidores são registradas após uma série de alertas do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, sobre os efeitos do descontrole fiscal.
Ontem, o ministro disse que “o Brasil pode ir para uma hiperinflação muito rápido, se não rolar a dívida satisfatoriamente”. Já o deputado disse, também ontem, que o Brasil vai explodir em janeiro se as matérias não forem votadas.
Em paralelo, os dados sobre a inflação também têm mantido uma certa cautela entre os investidores. A situação é o fator determinando para qualquer mudança na política monetária, mas os números têm sido acompanhados de perto.
Valor Online
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