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Após congelar recursos, Trump sobe o tom contra Harvard e exige que universidade peça desculpas

A Casa Branca afirmou nesta terça-feira (15) que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, quer que a Universidade de Harvard se desculpe por episódios de "antissemitismo" na instituição. O governo fez referência a protestos pró-Palestina e contra a guerra na Faixa de Gaza que ocorreram em várias universidades americanas ao longo de 2024.

A declaração foi feita um dia após o governo Trump determinar o bloqueio de mais de US$ 2,2 bilhões em recursos de Harvard. Na segunda-feira (14), a universidade afirmou que não iria atender a uma série de exigências do governo, como encerrar programas de inclusão e equidade.

Mais cedo, nesta terça-feira, Trump afirmou que avalia a possibilidade de cancelar a isenção fiscal concedida a Harvard e passar a taxá-la como uma "entidade política" por promover "doença inspirada em política, ideologia e terrorismo".

Ao ser questionada sobre o assunto, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que Trump quer que a universidade peça desculpas.

"O presidente foi claro: eles devem seguir a lei federal", disse Leavitt. "Ele também quer ver um pedido de desculpas de Harvard, que deve se retratar pelo antissemitismo flagrante que ocorreu no campus contra estudantes judeus americanos."

Leavitt disse ainda que Harvard possui um fundo de mais de US$ 50 bilhões. Sendo assim, o governo está avaliando o motivo de enviar recursos públicos para a instituição, considerando que a universidade tem "bilhões no banco".

"Muitos americanos estão se perguntando por que seus impostos estão indo para essas universidades, quando elas não apenas estão doutrinando os estudantes do país, mas também permitindo que comportamentos ilegais e flagrantes ocorram", continuou.

Batalha
Em uma carta enviada a Harvard na sexta-feira (11), o governo pediu reformas amplas na administração da universidade, a adoção de políticas de admissão e contratação “baseadas em mérito”, além da realização de uma auditoria com estudantes, professores e dirigentes.

As exigências também incluem a proibição do uso de máscaras — uma medida vista como direcionada a manifestantes pró-Palestina. O governo alega que manifestações contra a guerra na Faixa de Gaza em 2024 foram movidas por antissemitismo.

As regras impostas a Harvard fazem parte de um esforço mais amplo para usar dinheiro público como forma de pressionar grandes instituições acadêmicas a seguir a agenda política de Trump e influenciar as políticas nos campi.

O presidente de Harvard, Alan Garber, afirmou em uma carta que as exigências violam os direitos garantidos pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA e "excedem os limites legais da autoridade do governo sob o Título VI", que proíbe discriminação contra estudantes com base em raça, cor ou origem nacional.

“Nenhum governo — independentemente do partido que estiver no poder — deve ditar o que universidades privadas podem ensinar, quem podem admitir ou contratar, e quais áreas de estudo e pesquisa podem seguir”, escreveu Garber.

“Esses objetivos não serão alcançados por meio de imposições de poder, desvinculadas da lei, para controlar o ensino e a aprendizagem em Harvard e ditar como operamos”, afirmou. “A tarefa de enfrentar nossas falhas, cumprir nossos compromissos e incorporar nossos valores cabe a nós, enquanto comunidade.”

Na sequência, o Departamento de Educação dos Estados Unidos anunciou o congelamento dos recursos, afirmando que a declaração de Harvard mostra que a "mentalidade" da instituição desrespeita leis de direitos civis.

Campanha de pressão
Harvard é uma das várias universidades da Ivy League alvo de uma campanha de pressão, que já levou à suspensão de financiamentos federais para as universidades da Pensilvânia, Brown e Princeton, como forma de forçar a adesão à agenda do governo.

A carta de exigências enviada a Harvard é semelhante à que motivou mudanças na Universidade Columbia sob ameaça de cortes bilionários.

As medidas do governo Trump levaram um grupo de ex-alunos a escrever para os dirigentes da universidade, pedindo que “contestem legalmente e se recusem a cumprir exigências ilegais que ameaçam a liberdade acadêmica e a autonomia universitária”.

“Hoje, Harvard defendeu a integridade, os valores e as liberdades que sustentam o ensino superior”, disse Anurima Bhargava, uma das ex-alunas por trás da carta.

“Harvard lembrou ao mundo que o aprendizado, a inovação e o crescimento transformador não se curvam à intimidação e a caprichos autoritários.”

A decisão do governo também provocou um protesto no fim de semana, com a participação de membros da comunidade de Harvard e moradores de Cambridge, além de um processo judicial movido na sexta-feira pela Associação Americana de Professores Universitários contestando os cortes.

Na ação, os autores argumentam que a administração Trump não seguiu os procedimentos exigidos em lei antes de iniciar os cortes de financiamento, incluindo o envio de notificações tanto à universidade quanto ao Congresso.

“Essas exigências amplas e, ao mesmo tempo, indefinidas, não são medidas corretivas direcionadas às causas de qualquer descumprimento da lei federal. Em vez disso, visam claramente impor à Universidade Harvard visões políticas e preferências ideológicas do governo Trump, comprometendo a universidade a punir discursos que o governo desaprova”, escreveram os autores da ação.

g1
Portal Santo André em Foco

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