A Zona Rural do município de Remígio, no Brejo da Paraíba, foi cenário de um dos episódios mais graves e brutais do período de escravidão no Brasil. Numa das propriedades da região, num território que na época ainda pertencia ao município de Areia, um comerciante português chamado Francisco Jorge Torres se especializou na reprodução sistemática e na comercialização de pessoas escravizadas.
Essa história é contada neste 13 de maio, data que marca o fim oficial da escravidão no país em 1889, para relembrar essa história. Um tempo no Século 19 em que o comerciante português tratava as pessoas escravizadas como rebanho.
"Ele se especializou e se destacou no comércio de pessoas escravizadas", destaca o pesquisador Raimundo Melo.
O pesquisador mostra um pouco da propriedade, hoje em ruínas, e destaca que o passado, ainda que doloroso, precisa ser relembrado. E pondera que aquelas ruínas guardam histórias de muita dor. Por exemplo, ele aponta um dos prédios, ainda parcialmente em pé, que no passado serviu de calabouço e de solitária para as pessoas escravizadas que tentavam fugir.
Homens eram 'reprodutores', e crianças eram vendidas como produtos
Naquela época, o comerciante Francisco Jorge Torres separava as pessoas escravizadas que ele mantinha encarcerado em diferentes "funções". Alguns homens eram tratados como "reprodutores" e algumas mulheres eram submetidas a serem engravidadas para gerar crianças que seriam vendidas como produto no futuro.
"É um dos aspectos mais sombrios do período da escravidão", comenta Laurentino Gomes, escritor autor de três livros sobre o tema e que na época de sua pesquisa visitou a fazenda localizada em Remígio.
Recorrendo mais uma vez à fala da professora Rilma Suely de Sousa, o país foi construído em meio a toda essa violência. Mas, também, aquelas ruínas eram testemunhas de todo o processo de resistência que se viveu. "Os modos de se fazer brasileiro também passa por aqui", conclui.
Visitas pedagógicas
A professora Rilma Suely de Sousa, que é coordenadora de Ensino Fundamental de Remígio, comenta que periodicamente leva estudantes do município para conhecer o local. Ela é outra que defende a necessidade de contar toda essa história às novas gerações.
"É muito importante que esses alunos percebam que o nosso país tem uma identidade negra, tem uma identidade preta que se construiu a partir de povos escravizados. Esse espaço aqui é um espaço de memória, de identidades", destacou.
Ela comenta também que essa é uma forma mais didática de demonstrar questões muito graves que fazem parte da história brasileira e paraibana. "Eles saem dos livros, saem da internet, para observar in loco todas as marcas da escravidão".
g1 PB
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