Novembro 24, 2024

Chuva causa mortes, deslizamento de barreiras e alagamentos no Grande Recife

As chuvas que atingem a Região Metropolitana do Recife (RMR) desde a madrugada desta quarta-feira (24) levaram à morte de 11 pessoas, segundo o Corpo de Bombeiros. O temporal também derrubou barreiras e árvores e causa diversos pontos de alagamento, que dificultam a circulação dos ônibus. Em algumas cidades da RMR, aulas da rede municipal foram canceladas.

Quatro mortes registradas pelos Bombeiros ocorreram no Passarinho, entre o Recife e Olinda, e uma no bairro de Dois Unidos, na capital pernambucana. Outras duas mortes foram confirmadas em Águas Compridas, em Olinda. Houve, ainda, quatro mortes registradas em Caetés, em Abreu e Lima.

Na Rua Ageu, no Passarinho, as vítimas de um deslizamento de barreira são Natalicio Vicente da Silva, de 69 anos, Ivonete Maria da Silva, de 63. Outro deslizamento em Abreu e Lima, segundo os Bombeiros, vitimou dois irmãos, sendo um jovem de 18 anos e um adolescente de 15.

A mãe deles, de 39 anos, foi retirada dos escombros e levada ao Hospital Miguel Arraes, em Paulista. Ainda em Abreu e Lima, o Corpo de Bombeiros registrou as mortes de dois homens, sendo um 53 anos, que morava sozinho, e outro de 49 anos, pai dos dois jovens encontrados mortos.

Em Olinda, as mortes de uma idosa de 78 anos e um jovem de 25 anos foram encontrados mortos nas ruas Aquarela e Arcoverde, respectivamente.

Pouco antes das 13h, os Bombeiros também confirmaram a morte de um homem e uma mulher na Estrada do Passarinho, em Olinda. As idades não foram informadas.

Em Dois Unidos, no Recife, cinco vítimas foram soterradas após um deslizamento de barreira. Segundo o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), as vítimas foram retiradas do local com escoriações.

No Córrego do Joaquim, em Nova Descoberta, no Recife, uma barreira deslizou e duas casas foram atingidas. Ao todo oito pessoas estavam nas duas residências atingidas. Sete ficaram feridas e foram socorridas para UPA de Nova Descoberta. Em seguida, foram encaminhadas ao Hospital da Restauração.

Em Jaboatão dos Guararapes, sete barreiras deslizaram. Segundo a prefeitura, ninguém ficou ferido, mas as famílias precisaram deixar suas casas. A Defesa Civil pode ser acionada, no município, pelos telefones 0800 281 20 99 ou (81) 9 9195 6655.

Acionado para socorrer feridos, o Samu também registrou deslizamentos de barreiras no Córrego do Abacaxi, Estrada do Passarinho e no Alto Nova Olinda, em Olinda; na Rua do Bosque, em Paulista, e em Caetés, em Abreu e Lima.

No Recife, a Defesa Civil do município informou às 11h desta quarta (24) que o acumulado de chuvas de mais de 241 mm nos últimos cinco dias equivale a 20 dias da média histórica do período, o que corresponde a 357 mm, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

De acordo com a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), as chuvas no Grande Recife e Zona da Mata devem diminuir de intensidade, mas persistem durante todo o dia. Na terça (23), a Agência havia renovado o alerta para chuvas moderadas a fortes nas duas regiões.

Barco e trator para locomoção
Devido aos alagamentos na BR-101, no bairro da Guabiraba, na Zona Norte do Recife, o enfermeiro André Cavalcanti pagou R$ 10 para atravessar a rodovia e conseguir chegar a Igarassu, também na Região Metropolitana.

Em Olinda, os moradores do Residencial Jardim Olinda, no bairro de Casa Caiada, contam que foram acordados por volta de 1h30 e orientados a retirar os carros da garagem para a água poder escoar. No mesmo bairro, moradores usaram um barco para se locomover.

Animais nas ruas
Porcos foram levados pela correnteza do Rio Beberibe, num trecho da Zona Norte do Recife, e um jacaré foi encontrado por moradores do Prado, na Zona Oeste da capital pernambucana. Através de um vídeo enviado ao WhatsApp da TV Globo, é possível ver que os porcos estão sobre uma pilha de lixo que boia no rio. Já o jacaré foi encontrado na Rua Manoel de Arruda Câmara.

Alagamentos
Às 5h30, a Rua Manoel Bandeira, onde fica o Residencial Jardim Olinda, ficou completamente alagada. A água cobriu parte dos veículos. Quem mora nos apartamentos mais baixos do Residencial precisou contar com ajuda para subir os móveis.

Ainda em Olinda, na Cidade Tabajara, cerca de 20 ônibus faziam uma fila sem conseguir transitar. Caminhões, caminhonetes e carros comuns também estão parados nos acostamentos para não arriscar a travessia.

Imagens enviadas para o WhatsApp da TV Globo mostram a Rua Olegário Mariano, na mesma cidade, completamente alagada. O nível da água chega até metade dos veículos. Segundo moradores da Rua Caetano Ribeiro, em Casa Caiada, a água no nível da cintura deixa as pessoas ilhadas em suas casas.

No Recife, a Rua Carneiro Vilela, no bairro da Encruzilhada, a Rua Teles Júnior, nos Aflitos, e a Rua Estrela, no Parnamirim, todas na Zona Norte do Recife, são algumas das vias alagadas.

O analista de tecnologia da informação Gilberto Santos Júnior, de 39 anos, que mora há 15 anos no mesmo lugar, conta que se deparou com a Rua Nossa Senhora da Pompéia, no bairro da Encruzilhada, na Zona Norte do Recife, alagada desde as 6h.

Segundo ele, o caos no bairro não é novidade. "Sempre alaga tanto aqui na rua quanto nas redondezas. Tem um giradouro por trás do Mercado da Encruzilhada que traz muita água e lixo para esse lado", afirma.

Há, também, pontos de alagamento nas avenidas Mascarenhas de Moraes, na Imbiribeira, na Zona Sul; Dois Rios, no Ibura, também na Zona Sul; e na Doutor José Rufino, em Areias, na Zona Oeste. Nesses pontos não há retenção, mas os veículos passam com dificuldades, de acordo com a Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU).

"Eu consegui passar porque estava dentro de um ônibus, que é alto, mas essa parte da Doutor José Rufino Sempre alaga e não é de hoje. Já fizeram uma intervenção de limpeza, mas não mudou nada", conta o professor Carlos Landim.

A CTTU não divulgou um balanço de semáforos que pararam de funcionar por conta das chuvas, mas solicita à população que avise qualquer ocorrência desse tipo pelo número 0800 081 1078. A ligação é gratuita.

No município de Paulista, de acordo com moradores, o nível da água na Rua Frei Caneca, no bairro do Janga, chega até o joelho. Os moradores não conseguem sair de casa.

A Rua Britânia, em Nossa Senhora do Ó, em Paulista, está alagada. De acordo com Marcela Portela, de 26 anos, que mora há 19 no local, falta pouco para a água invadir as residências. "Hoje não temos condições de sair daqui. Sexta-feira tenho um congresso e a situação precisa melhorar. Durante todo o tempo aqui, nunca vi ações da prefeitura para melhorar a rua", afirma.

Problemas de mobilidade
No Terminal Integrado Pelópidas Silveira, em Paulista, passageiros que aguardam transporte afirmam que não há circulação de veículos na manhã desta quarta (24). Segundo passageiros que estavam no local, a orientação dada pelo TI é que os passageiros voltem para casa.

Segundo o Grande Recife Consórcio de Transporte, a operação dos terminais Pelópidas Silveira e Igarassu foi comprometida. Equipes monitoram as ruas devido aos alagamentos nesses dois locais e em frente ao TI CDU, na Zona Oeste do Recife.

De acordo com o estudante Juan Gouveia, que saiu de Paulista, a falta de previsão de novas operações complicou a chegada no trabalho, que fica no centro do Recife. "Já não tinha ônibus da linha alimentadora do meu bairro e eu tive que ir andando para o terminal", diz.

Já na BR-101, no bairro da Guabiraba, na Zona Norte do Recife, as dificuldades de mobilidade eram as mesmas para quem estava à espera de transporte público. Funcionária de um posto de saúde em Casa Forte, Lídia Moraes saiu de casa às 6h30, mas não conseguiu transporte. "Fiquei sabendo que está tudo alagado, por isso os ônibus não passam. Não sei como vou fazer", conta.

A empregada doméstica Neide Maria Reis tenta pegar um ônibus para sair da Guabiraba e chegar no bairro da Estância, na Zona Oeste do Recife. "Era para eu estar no trabalho às 7h40, mas não sei como vai ser. E a maré nem encheu... Mais tarde vai ficar ainda mais complicado", afirma.

Com os alagamentos na BR-101, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) orienta motoristas a usarem a PE-15 como rota alternativa.

Aulas
Em Olinda, Paulista, Abreu e Lima e Igarassu, as redes municipais de ensino suspenderam as aulas nesta quarta (24), em todos os turnos. Na rede estadual, o expediente foi suspenso em Olinda e em Paulista. Nos outros municípios, as diretorias das escolas estaduais devem avaliar se os locais estão seguros para receber os estudantes.

No Recife e em Jaboatão dos Guararapes, a rede municipal vai funcionar normalmente. Alguns alunos, no entanto, têm tido dificuldades para chegar às escolas.

O caminho até a Escola Mundo Esperança, no Sítio dos Pintos, na Zona Norte do Recife, está complicado para Maria Rita Nascimento, que tenta levar a neta Ruama, de oito anos.

"Eu já falei com a diretora para avisar que minha neta está atrasada. A situação é ainda mais preocupante porque eu fiquei sabendo que nem merenda vai ter para os alunos que conseguiram chegar", diz Maria Rita.

Atendimentos suspensos e reduzidos
Os expedientes administrativo e judicial do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) no Grande Recife foram suspensos nesta quarta (24). O plantão judiciário das comarcas está mantido das 13h às 17h, a ser exercido pelos diretores dos Foros em casos urgências.

Em Paulista, unidades de saúde da rede municipal estão funcionando com equipe reduzida. Algumas delas chegaram a suspender o atendimento ao público, como a Unidade de Saúde da Família (USF) Quirino Figueiredo, em Pau Amarelo; a USF Chã da Mangabeira, na Cidade Tabajara; e a Policlínica da Mulher, no Centro.

O Ministério Público do Trabalho (MPT) suspendeu o expediente no Recife ao longo da quarta (24), devido às chuvas. Outras informações sobre o funcionamento do MPT podem ser obtidas no número (81) 2101-3200.

Barreiros
No domingo (21), mais de 500 famílias do município de Barreiros, na Zona da Mata Sul, precisaram deixar as suas casas por causa de alagamentos. O nível dos rios Una e Carimã subiu, invadindo ruas e imóveis. Não houve registro de mortes ou feridos. Na terça-feira (23), a maioria dos desalojados havia voltado para casa.

G1
Portal Santo André em Foco

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