Saudade pé-de-moleque
(Homenagem ao centenário natalício da Professora Neir Alves Porto)
Ontem fui ao Cariri
procurar Dona Neir
Disse um bode no Oitizeiro
“Professora tá no céu
Foi jogá o seu buraco
Com São Pedo e São João
Ensiná os anjo a ler
Cunversá com Santo Antoin
E rezá por quem ficô”
Pra rua voltei e vi
Linda escola em seu nome
Família bem orgulhosa
Do legado propagado
Rigidez de uma matrona
Afago de mãe, mulher
Valores de honestidade
Coração de Santo André
Trabalho e seriedade
Tez clara, cabelo branco
Olhos verdes esperança
Consciência de cristã
Paz e bem de franciscana
Bisavó e matriarca
Solidez paraibana
Desde o Ponto de Cem Réis
Subindo a Diogo Velho
Por sete, sete se fez
Foi feliz em João Pessoa
Ziziu muy tempranamente
Virou-se em lembrança boa
Saudade pé-de-moleque
Vale versejar cozinha
Rima livre, metro não
É cheiro, tato, sabor
Buchada, pernil assado
Pizza, lasanha, licor
Um bode bem preparado
Pão, café, pamonha, amor
Finalmente eu vi Neir
Senti de seu tom sorrir
Sua face luminosa
Emanava paz profunda
Sublime soprou o vento
A lua já prateava
Na caatinga invernada
O milho já apontava
Fartura tão desejada
Mas gritou rasga-mortalha
Com seu canto tenebroso
“O passado nunca mais”
Allan Poe lembrou-me O Corvo
Com firmeza e com doçura
Segura disse Neir
“Quem se lembra com cem anos
Vivo ou viva ainda vive!”
E foi-se, mas permanece...
André Porto - 30/07/2020
Make sure you enter all the required information, indicated by an asterisk (*). HTML code is not allowed.