Atravessando a porta da fé
Como quem entra em terreno e ambiente desconhecido e não domesticado, assim é a travessia pela porta da fé. Começam e continuam as perguntas; tem-se a sensação do surpreendente, do risco e da obscuridade, mas ao mesmo tempo a certeza de que há horizontes infinitos que nos esperam, luzes que vão se acendendo e surpresas que nem imaginamos. A porta da fé está sempre aberta para todos e em todos os tempos.
Não se atravessa a porta da fé sem um certo “espírito de aventura”. Abraão, o Pai da fé começou atravessar a porta da fé, seguro sem ter nenhuma segurança, mas unicamente firmado na promessa de Deus. Bem entendida, esta aventura da fé nos impele a caminhar para frente, sem olhar para traz, movidos por esperanças e não por saudades.
Na medida em que vamos andando no caminho da fé e a cultivarmos, logo percebemos que esta vai iluminando, irrigando e fecundando toda a nossa vida. Pela fé promovemos a justiça, a paz e o amor, sobretudo com os mais necessitados. Se por acaso nos refugiamos na fé, apenas para não sofrer pelos problemas materiais e imediatos, revelamos uma ideia errada de fé.
Quem atravessa a porta da fé, necessariamente, vai se envolvendo com a mesma causa de Jesus, independentemente se as coisas vão bem ou mal. Ao testemunho da “verdadeira face de Deus”, temos que anexar o testemunho de nosso amor pelos humanos. Na medida em que nos envolvemos nas boas causas que humanizam e promovem a vida, mais a fé vai se tornando luminosa e autêntica, pois “a fé sem obras é morta” (Tg 2,14).
Atravessando a porta da fé, progressivamente, vamos nos dando conta de que esta não se baseia em alguma coisa secundária do nosso viver. Porém, certamente a fé sustenta de modo particular os que atravessam momentos difíceis, ajudando-os a vivê-los e a colocá-los em um horizonte mais amplo. A fé não nos dispensa dos passos normais que humanamente devemos dar e do nosso compromisso com a vida. Porém, em tudo e para tudo confere sentido e oferece razões para ser ou não ser, para fazer ou não fazer, para viver e conviver.
Numa pequena história irônica de um antigo livro de teologia, conta-se que num dia de tempestade, um navio estava se afundando. O comandante apavorado, começou a gritar: “Os ateus às bombas e os crentes a rezar!” Diante da tragédia nem um e nem outro tinha a solução, mas ainda era melhor rezar para tentar arrancar forças repentinas que pudessem inspirar alguma positiva reação.
Para podermos atravessar com elegância e dignidade a porta da fé e prosseguirmos com decidida perseverança, necessitamos fazê-lo na certeza de um encontro com aquele que disse: “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem” (Jo 10,9). Melhor que as provas racionais para convencer alguém da importância da fé, é preciso que a prova seja o nosso viver como humanos, na realidade do cotidiano, na sua evidência social. Por causa do encontro com Jesus Cristo nos tornamos mais humanos e amigos da vida.
Frei Luiz Turra
COMECE O DIA FELIZ
Portal Santo André em Foco
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