Doce envelhecer
Da varanda do meu quarto, olhei o dia se espreguiçar: as estrelas esmaecendo, o céu mais claro, a tênue luz. Não tive pressa, acompanhei todas as cores que o sol costuma sequenciar. Foi estonteante, um doce delírio, difícil de relatar. Pensei nos filhos, agora distantes, saindo às pressas pra trabalhar.
Lembrei-me também, daqueles anos que eu costumava nunca parar: acordar cedo, cuidar de todos, para depois se dispersar.
Eu nem sonhava que seria doce envelhecer: ter bem mais tempo, se surpreender em vez de se programar. Esperar os netos, comer com eles, sentir-lhes a vida exagerar; não ter mais ciúmes, pelo contrário, deles se vangloriar. Saborear cada momento. Trocar meu antigo medo por novo sonho. E até ajudá-lo a se realizar.
Não precisar de mais nada que o amor não possa dar. Deixar às claras todas as coisas, pôr ordem na casa inteira, desfazer-se das velhas ideias, ter a coragem de arriscar, de se expor de se declarar. Esperar por resultados sem a cobrança de outros tempos.
Ter agora aquela paciência que nos faltou ao começar. Ser companheira e ter mais tempo pra conversar, pra passear de mãos dadas, deixando os outros se perguntando se é por amor ou pra se apoiar.
Não se importar em fazer loucuras se o coração o determinar. Dar graças a Deus e também aos homens deixando um anjo nos inspirar.
Maria Salete Interciso
Pesquisa: Arimatéa Porto
COMECE O DIA FELIZ
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