O limite do nosso agora
Não há como tirar de nossa existência o título: “somos mortais!” Se, de um lado, a morte nos atemoriza, de outro, nos coloca diante de uma verdade inerente à nossa condição humana. Nós não suportaríamos uma vida indefinida, pois é o caráter finito e passageiro que confere importância e sabor às coisas deste mundo e desta história. Se pudéssemos dispor de um tempo indefinido, o conceito de cada momento passaria a ser encarado com indiferença. Não teríamos argumento para dar-lhe o verdadeiro valor. A vida assim, se transformaria num tédio insuportável.
Nós vivemos sempre diante de um espaço de tempo limitado. É isso que dá às nossas opções um caráter de urgência e de agilidade. Jamais teriam essa dinâmica, se não vivêssemos diante de um horizonte finito. Nossa consciência está sempre atenta a tornar nossa liberdade responsável pelos nossos pensamentos, afetos e opções. Deus não nos chamou à vida para sermos aventureiros, mas responsáveis pelo destino que vamos decidindo.
Uma comparação muito simples pode nos ajudar a entender isso. Pensando numa partida de futebol, damo-nos conta de que o limite do tempo é o elemento que confere toda a relevância que determina o ardor da luta na conquista da vitória. Dentro do espaço de tempo que os atletas dispõem, investem todos os recursos e capacidades para conquistar o troféu.
A experiência do atletismo também era simbólica para o Apóstolo Paulo: “Nas corridas de um estádio, todos correm, mas bem sabeis que um só recebe o prêmio. Correi, pois, de tal maneira que o consigais. Todos os atletas impõem a si mesmo privações; e o fazem para alcançarem uma coroa corruptível. Nós o fazemos por uma coroa incorruptível” (1Cor 9,24-25).
A vida humana é um instante no fluir do tempo, mas este instante é de absoluta importância para nós. São as nossas decisões de cada dia que vão tecendo e preparando a definitiva decisão. O que marca a nossa condição humana é a vigilância de quem se sente sempre diante do horizonte da morte. É ela que confere um caráter de transcendência e irrepetibilidade às nossas ações. Mesmo fazendo as mesmas atividades diárias, nada repetimos. Cada ato é novo e cada dia é novo e único.
Pensando no limite do agora somos também chamados a pensar no que vem depois. O depois será tão melhor, quanto mais o agora for assumido e vivido com criatividade, dinamismo e amor. De agora em agora, vamos passando para o depois e, a partir do agora e do depois, edificamos um viver que se projeta para a plenitude na eternidade. O merecido e verdadeiro título de “imortal” não parece ser aquele que a cultura consagra. Imortal é quem procura edificar com amor uma existência doada à causa da vida.
Penso ser justo pensarmos no limite de nosso agora, não para lhe dar pouco valor, mas entendê-lo e acolhê-lo como dom precioso, único e irrepetível e como responsabilidade de nossa liberdade. Serei agora os meus sonhos de amanhã, e serei amanhã o que plantei agora.
Frei Luiz Turra
Pesquisa: Arimatéa Porto
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