Recuperando o senso de humanidade
O senso de humanidade sempre foi uma marca original do Criador, impressa no coração de cada homem e de cada mulher. Não é por nada que o livro do Gênesis proclama que, após ter criado o homem e a mulher, “Deus viu que tudo o que tinha feito era muito bom” (Gn 1,31). Porém, a tentação da liberdade humana, sempre buscou e busca desenhar cenas e cenários de pretensa autonomia. Este endeusamento falso foi e continua sendo causador dos maiores prejuízos ao senso de humanidade.
Dizem que a evidência dos fatos é mais do que uma possível teoria. A realidade se antecede a um sonho que desejamos desfrutar. Digo isso, porque a todo instante comprovamos em todos os ambientes, não só a dificuldade sentida, mas a realidade vivida de uma acentuada perda do senso de humanidade. A espontaneidade de conviver, até mesmo em família, deixa-se subjugar por aparelhos de televisão e redes sociais. Quando se transforma um meio em fim, o que deveria ser um fim passa a ser meio. Assim a pessoa, facilmente passa a ser um estorvo em nosso caminho.
A perda do senso de humanidade vai se tornando um caminho favorável à idolatria dos animais, achando que são mais do que os humanos. Não parece ser de outro planeta ver pessoas que viram dependentes de gatos e cachorros. Até já vi, em programa de televisão, uma família de classe média, centrando toda a atenção num porco de estimação, dando-lhe trato de príncipe, vestindo-o com roupas finas e dormindo com o cão. O problema não é tratar bem os animais! O problema não é utilizar os novos meios que a capacidade humana nos põe à disposição! A desgraça é a perda do senso de humanidade que reverte e subverte o valor de tudo. E quando um ser humano é subestimado, rejeitado e coisificado, cedo ou tarde reage de forma desumana para cobrar o que lhe era merecido e não lhe foi dado.
Nestas alturas, gostaria de virar a medalha, deixando de evocar a escuridão, lembrando as possíveis luzes da recuperação do senso de humanidade. Tudo começa quando a pessoa deixa de se endeusar e consegue, a partir de Deus, olhar a si, os outros e o mundo, naquela dignidade e responsabilidade original. “Deus viu que tudo era bom!” Só podemos recuperar o senso de humanidade quando reaprendemos a olhar, pensar e tratar o humano a partir do divino que está em cada pessoa, criada à imagem e semelhança de Deus.
A recuperação do senso de humanidade é possível, sempre que cultivarmos a alegria do Evangelho. “O grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista, que brota da busca desordenada de prazeres superficiais da consciência isolada.
Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros... já não se ouve a voz de Deus... Convido todo o cristão a renovar o seu encontro pessoal com Jesus Cristo... Ninguém nos pode tirar a dignidade que este amor infinito e inabalável nos confere” (Francisco, “A Alegria do Evangelho”, n. 2).
Frei Luiz Turra
Pesquisa: Arimatéa Porto
COMECE O DIA FELIZ
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