Buscando o bem do outro, encontramos o nosso
Em meus longos anos de sacerdócio, já acompanhei e acompanho muitas pessoas em sua hora derradeira, também celebrando funerais. Mesmo que o sacramento da Unção dos enfermos e o ritual de exéquias sejam os mesmos para todos, cada pessoa teve e tem uma história diferente. A intensidade vivida ou a formalidade conveniente, até mesmo a indiferença destes momentos, depende da história que cada pessoa viveu ou vive.
Dizem os bons observadores, que para podermos ver o todo de uma paisagem, precisamos nos posicionar num vértice favorável. Para avaliarmos a vida, nada melhor do que nos vermos a partir da morte. A morte é o espelho da vida. De forma espontânea, durante o velório, ou até mesmo em depoimentos provocados, as pessoas com quem conviveram sabem tecer elogios às pessoas de bem e fazer memória da bondade, dos gestos, da dedicação amorosa à família, das obras de caridade, do bom trato ao semelhante e da sinceridade da fé.
Quando pouco ou nada se diz, quando poucos ou ninguém acompanha o funeral, quando o ritual transcorre em tom de conveniência, algo estranho foi tecendo a vida desta pessoa que partiu. Antes de Cristo, Platão dizia: “Buscando o bem de nosso semelhante, encontramos o nosso”.
O bem realizado em favor das pessoas, vai eternizando a nossa vida e a nossa passagem pela terra. Dizem que o pior da morte não é morrer, mas ser esquecido. Quem planta o bem nos corações, já aqui na terra vai colhendo frutos de satisfação interior, de felicidade e realização. Ao morrer, as pessoas do bem não morrem, mas permanecem na lembrança e na saudade como luzeiros no firmamento. O amor eterniza a vida.
A Ressurreição de Cristo não aconteceu por decreto, nem mesmo por um gesto de favoritismo de Deus. Se é buscando o bem do outro que encontramos o nosso, não poderia ter acontecido diferente para Jesus. Num dos discursos, Pedro afirma à gente de Cornélio: “Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do Batismo pregado por João: como Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder. Por toda a parte ele andou fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo diabo; porque Deus estava com Ele... Os Judeus o mataram, mas Deus o Ressuscitou no terceiro dia”.
O critério de avaliação de uma vida não vem pelos títulos, nem pelas posses, nem mesmo por se dizer membro de uma denominação religiosa, mas pelo bem concreto que praticou. “Não nos cansemos de fazer o bem, pois no devido tempo colheremos o fruto, se não desanimarmos. Portanto, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos, principalmente aos da família da fé” (Gl 6,9-10).
A busca do bem do outro é uma oportunidade permanente que pode ser exercida de incontáveis modos, desde um sorriso dado a quem chega, uma palavra amiga de valorização e apoio, um gesto de atenção e escuta, uma ajuda solidária, até uma pequena ou grande ação caritativa na hora das carências humanas.
Frei Luiz Turra
Pesquisa: Arimatéa Porto
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