Cada um pelos outros e Deus por todos!
Existem ditos populares e assuntos antigos que chegam como novidade e até de forma surpreendente. Há pensadores inesperados que provocam reflexões tiradas do cotidiano, onde e quando parece que ninguém pensa. Certas pessoas que cultivam um elevado senso crítico não se enquadram com a moda de conversas vazias e pouco construtivas.
Começo falando assim, para referir-me a um diálogo diferente de um jovem que, após uma das Missas, procurou-me para conversar. Tendo ouvido as leituras Bíblicas do dia, criou-se nele um conflito entre a proposta da Palavra de Deus e uma frase conhecida no meio do povo. Referia-se à frase: “Cada um por si e Deus por todos”.
Neste caso, dizia o jovem, ou a Palavra de Deus estava errada, ou a mentalidade popular não era verdadeira. Perguntei qual era a sua opinião. Disse-me então que esse negócio de “cada um por si” não fechava com a proposta da Palavra de Deus. Porém, concordava com a segunda parte da frase: “Deus por todos”.
Seguindo o diálogo, perguntei se ele não estava disposto a corrigir a frase: “Cada um por si e Deus por todos”. Disse-me ter tido uma ideia boa, nascida do conflito. A correção que propunha era: “Cada um pelos outros e Deus por todos”. Pensando bem, a proposta do jovem aproxima-se muito bem da forma cristã de viver e conviver.
O outro, na experiência da espiritualidade da comunhão, faz parte de mim, como eu faço parte do outro. No momento em que excluo alguém, uma parte de mim é excluída por mim mesmo. Na medida em que procuro aproximar e integrar o outro ao meu viver, eu mesmo me integro e me enriqueço.
Substituir o “cada um por si” pelo “cada um pelos outros” é a estratégia mais correta para garantir que os outros também se interessem por mim. Se o individualismo é a pior doença do nosso tempo, a solidariedade poderá despontar como um grande remédio para curar tantas depressões, abandonos e indiferença.
Depois da agradável conversa com este mencionado jovem, procurei ler novamente os textos bíblicos do dia. Constatei como ele havia prestado atenção à Liturgia da Palavra e nela havia encontrado motivos para sua inquietação. O profeta Ezequiel diz: “Se eu disser ao ímpio que ele vai morrer, e tu não lhe falares, advertindo-o a respeito de sua conduta, o ímpio vai morrer por própria culpa, mas eu te pedirei contas da sua morte” (Ez 33,8). O Apóstolo Paulo insiste: “Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois quem ama ao próximo está cumprindo a lei” (Rm 13,8-10). O Evangelho do dia de Mateus 18,15-20 indica os recursos para a correção fraterna, começando pelo diálogo pessoal.
Enfim, na vida cristã não há como se acomodar ao “cada um por si”. Ninguém é feliz sozinho. Não somos chamados apenas a cultivar uma comunhão circunstancial, mas a assumir com os outros uma comunhão de destino. Céu é amor e comunhão que se prepara na prática real da vida cotidiana.
Frei Luiz Turra
Pesquisa: Arimatéa Porto
COMECE O DIA FELIZ
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