Deus é pai, não paternalista
Facilmente transferimos para a dimensão da fé, a medida de nossas limitadas experiências humanas. Queremos puxar para o nosso lado, ao tamanho de nossos desejos, até a nossa experiência religiosa. Brigamos com Deus, porque ele confia em nós e não admite acomodação. Tantas vezes imploramos milagres fáceis, imediatos e, possivelmente, duradouros. Há em nós uma tendência de sentar na sombra de nossos comodismos e até suplicar para não faltar a água fresca em tempo de verão.
Ser paternalista ou maternalista é ir cedendo ao desejo dos filhos, sem nada exigir nem provocar para que assumam suas responsabilidades como sujeitos da história. O pior, é que muitos filhos fazem tudo para forçar paternalismos e maternalismos e assim não se aventurarem num caminho de desafios e garra diante da vida. Tantas crianças e jovens portadores de um imenso potencial para a criatividade e o desenvolvimento, investem suas artimanhas para fazer de seus pais reféns de seus egoísmos, às vezes até ameaçando-os de morte.
Na relação com Deus, não é de se estranhar que aconteça algo parecido. Queremos um deus mágico, paternalista e milagreiro. Esse deus é um ídolo que tem boca, mas não fala, tem olhos, mas não enxerga, tem ouvidos, mas não ouve. Então, quem decide fazer o que quer, mesmo que seja totalmente errado, passa atribuir a esse deus o que o próprio egoísmo decide.
Conta-se que num domingo à tarde, um ilustre intelectual que se achava propagador de uma bela ideologia, foi visitar os bairros de sua cidade. Passava e observava as ruas das favelas. Lá via esgotos correndo a céu aberto, crianças nuas e sujas, homens e mulheres malvestidos e casas amontoadas. Na medida em que ia passando, aumentava nele a indignação. Depois vieram as muitas perguntas, dentre elas, algumas dirigidas a Deus.
Terminado o dia, resolveu ir a um templo e olhar de frente uma grande imagem do Crucificado. Lá começou a reclamar e questionar o Cristo: “Se tu vieste para fazer uma grande revolução na humanidade, por que deixas toda essa gente no abandono e no sofrimento? O que fazes para sanar tantas desgraças?”. Depois de tanta reclamação e tantas perguntas, silenciou e ouviu uma voz que lhe dizia: “Meu filho, eu fiz a ti!”.
Deus é Pai Criador. A nós confia o cuidado da criação; concede-nos dons de todos os tipos e nos brinda de qualidades imensas para transformar e aperfeiçoar o mundo. Ele não é paternalista que faz por nós o que a nós compete fazer. Acolher o amor do Pai e crer nele significa arregaçar as mangas para fazer a parte que nos cabe. “Não são os que dizem: Senhor, Senhor, que vão entrar no Reino dos céus, mas aqueles que fazem a vontade do Pai que está nos céus” (Mt 7,21).
Quando Jesus nos ensinou chamar o seu Pai de nosso Pai, na oração do Pai-nosso, dá-nos um programa de fé, onde se confirma a permanente ação amorosa de Deus a nosso favor, mas também o nosso compromisso com seu Reino de verdade, justiça e amor.
Frei Luiz Turra
Pesquisa: Arimatéa Porto
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