No ano passado, mais de 2,6 milhões de estudantes de escolas públicas brasileiras foram reprovados em suas respectivas séries, revela uma pesquisa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do Instituto Claro. Desse total, mais de 1,2 milhão eram pretos e pardos, número que equivale ao dobro da soma de brancos. Após análise de dados recuperados do Censo Escolar, soube-se também que 84% dos alunos reprovados estudavam na zona urbana.
Atingir notas suficientes para obter o diploma de conclusão de ensino médio ainda é um obstáculo para muitos brasileiros, o que pode se tornar uma dificuldade na hora de conseguir empregos com salários melhores. Ao todo, 737.597 estudantes que cursavam o ensino médio nas instituições públicas foram reprovados.
Nas turmas da 6ª à 9ª séries do ensino fundamental, 1.106.429 alunos foram reprovados e terão que repetir o ano. Já entre aqueles matriculados nas séries iniciais desse nível de ensino, houve 776.314 reprovações.
Evasão escolar
O documento, que pode ser lido na íntegra no site da Unicef, também trata de abandono escolar. Ao longo do ano passado, mais de 912 mil crianças e adolescentes abandonaram os estudos. Também nesse âmbito, identificou-se uma elevada taxa entre alunos pretos e pardos: 453 mil dos estudantes que evadiram tinham esse perfil étnico-racial. Os brancos totalizaram 181.615 casos de abandono e os indígenas, 15.620.
A pesquisa demonstra ainda que a parcela indígena é a mais afetada pela distorção idade-série, que se configura quando o aluno tem dois ou mais anos de atraso escolar. Nesse grupo populacional, o índice chega a atingir mais de 41% dos estudantes matriculados.
Em 2018, uma significativa proporção de alunos com deficiência estava matriculada em uma série incompatível com sua idade. O segmento abrangia mais de 383 mil casos, que correspondiam a quase metade (48,9%) das matrículas.
A taxa de reprovação dos estudantes com deficiência foi de 13,8%, contra o percentual de 8,7% registrado entre alunos sem deficiência. A pesquisa revela que quase 30 mil de alunos com deficiência deixaram as escolas estaduais e municipais em 2018.
Gênero e região
De modo geral, os meninos têm probabilidade 64% maior de serem reprovados do que as meninas. O índice de reprovação constatado entre eles é 71% maior do que entre elas.
Quando o critério é regional, o Nordeste ganha destaque negativo. Na região, 342.316 estudantes deixaram as salas de aula, no último ano.
Para o chefe de Educação do Unicef no Brasil, Ítalo Dutra, ainda prevalece no país uma "cultura de fracasso escolar, que naturaliza a reprovação". Essa característica também explica o indicador relativo à distorção idade-série e o abandono escolar, dsse Dutra.
Agência Brasil
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