Márcia Albuquerque tem dez anos de sala de aula, mas nunca imaginou que, de uma hora para outra, teria que adaptar a lousa para a tela do computador. Com a pandemia do novo coronavírus, não só ela, mas tantos outros professores, principalmente de escolas e universidades privadas, precisaram se adaptar ao Ensino à Distância (EaD). “Difícil de lidar, mas possível de resolver até que isso tudo passe”, esclareceu. Para os alunos também foi uma surpresa e, ao mesmo tempo, uma busca incessante pela concentração.
Márcia trabalha em uma universidade privada que adotou o método EaD para as aulas que antes eram presenciais desde o dia 19 de março. Segundo a assessoria de imprensa da Uniesp, foram necessários dois dias para reconstruir o formato de ensino e montar o Plano de Contingência Institucional. Algumas instituições privadas, como a Uninassau e o Centro Universitário de João Pessoa (Unipê) começaram no dia 17 de março.
Nas aulas remotas da instituição, os professores encontram-se com os alunos em tempo real, no dia e horário de aula, através de ferramentas digitais de webconferência. É neste momento que o docente ministra o conteúdo previsto, realiza atividades pontuadas, exercícios e também responde dúvidas dos alunos.
“Primeiro eu tive que criar uma rotina diferente no processo de isolamento, uma rotina pessoal para que todo o trabalho pudesse funcionar. O processo de adaptação exige de todos os professores cada vez mais aprendizado. Se a gente já tinha um comprometimento grande em relação com o que havia de novo, tecnologias, pedagogias, discussões, formações, isso se intensificou agora. Está sendo uma adaptação delicada, porque não foi uma adaptação de um evento que estávamos preparados. Estávamos seguindo a vida normal e nos vimos na situação de ter que mudar completamente a forma como se ministra aula. Então exigiu da gente repensar tudo”, relata a professora Márcia, mestra em história.
No caso da Uniesp, há um sistema próprio chamado Aluno Online. Por meio da plataforma, o professor realiza a gestão da sua disciplina e os alunos, por sua vez, têm acesso aos materiais de aula, conteúdos complementares e atividades. Ao mesmo tempo, ferramentas de webconferência foram adotadas, a exemplo do Jitsi e do Google Meet, garantindo assim interação em tempo real nos horários de aula.
O Unipê também adotou um Plano de Contingência. As aulas também ocorrem dentro do horário regular da aula, quando o docente e os seus alunos podem se conectar simultaneamente por meio de um link específico disponibilizado pelo professor na Plataforma BlackBoard Collaborate ou Microsoft Teams, esta última também utilizada pela universidade Uninassau.
Assim, os alunos e professores podem interagir entre si, para que o conteúdo seja ministrado e os objetivos sejam atingidos, sendo possível tirar dúvidas em tempo real. Neste caso, as transmissões permanecem gravadas e disponíveis aos alunos pelo sistema, caso necessitem acessá-las posteriormente e também para os que não conseguem o acesso online.
Nelisa Soresini é estudante do curso de odontologia de uma universidade particular de João Pessoa. Ela assiste, diariamente, de duas a três horas de aulas online. Para ela, não é tão simples quanto se parece e o cansaço às vezes parece ser ainda maior do que em uma aula presencial.
“É complicado manter a rotina em casa, é preciso ter muita disciplina. Tem sido difícil por aqui. É muito mais cansativo assistir aula em frente ao computador, principalmente quando se tem a cama por perto. Mas até que estamos fluindo”, relata.
De acordo com Nelisa, os professores dela conseguem gerar uma boa discussão e a plataforma permite que dúvidas sejam tiradas na mesma hora. “A parte boa é que não paramos, não perderemos o período e as práticas (clínicas e laboratórios) vão ser repostas sem prejuízo quando as coisas normalizarem”, ressalta.
As instituições particulares do estado estão seguindo uma Portaria 395/2020 do MEC, que estabelece a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais até este domingo (17) e aguardam próxima determinação do Ministério sobre a questão.
No caso da Uninassau, conforme a assessoria de imprensa informou, a adesão dos alunos tem sido de 90%. O restante tem conseguido assistir as aulas que ficam gravadas. Já na Uniesp, os alunos, como todos, precisaram de um período de adaptação. Com as mudanças necessárias e a preparação num período de 15 dias, a instituição considerada que atingiu 85% da adesão dos alunos.
Thuana Nunes tem 28 anos, cursa nutrição, mas tem um filho de três anos para cuidar. Quando estava na rotina normal, ela ia para faculdade e ele para a escola. Agora os dois estão juntos o dia inteiro. Mesmo assim, ainda consegue ter alguma produtividade com os estudos. “Às vezes eu não posso assistir aula no horário, mas os professores deixam gravado”, explica a estudante.
Ela confessa que o rendimento não é o mesmo das aulas presenciais e esse foi o maio impacto que sentiu. Mas, como tem a dificuldade da rotina, acaba se esforçando mais. “As atividades, entrego sempre no prazo. Justamente por ter essa dificuldade, sempre faço antes para não acumular. Mas eu acho que é uma dificuldade pequena diante de tanta gente que eu estou vendo”, relata.
'O processo de mudança, de início, foi muito mais impactante'
A adaptação ao sistema não foi apenas à prática pedagógica, mas também de metodologia, técnicas de aplicação, formato de ensino, entre outras mudanças. A professora Márcia conta que o processo de aula presencial, pela experiência que tem, exige um modelo específico de ações de aplicação diferente do acesso remoto.
“Agora, nesse processo, quando a gente pensa nessa aula, a gente pensa no conteúdo específico, na metodologia específica, estratégias de ensino, de avaliação, de interação, dentro desse formato. O processo de mudança, de início, foi muito mais impactante por conta do processo de não estar sabendo que isso ia acontecer. Ninguém estava preparado. No início foi bem mais complicado. Como estamos há mais de um mês nesse processo, tudo já está se encaixando de uma forma que eu consiga compreender”, relata a professora
A falta de contato físico, causada pelo isolamento social, tem sido um problema para a maioria das pessoas, não apenas na sala de aula. Quem vive o isolamento social, está sentindo a falta do toque, da interação, da presença. “O ponto negativo desse processo é essa ausência que não depende da gente. Estamos nos adaptando a isso para passarmos por essa fase. A sala de aula é muito visceral, é muito viva. A sala de aula nos faz discutir muito perto, nada se compara a isso. Quando a gente está na sala de aula, que isso é ativado, isso é muito vivo, muito forte, muito tenso”, lembra Márcia.
Por outro lado, Márcia considera que o fato de cada um estar em seu ambiente de estudo, dentro de casa, a concentração acaba sendo maior. “Solicitamos que os alunos desliguem o microfone e, quando tiver dúvida, ligue o microfone e fale. Nos momentos que dou aula eles têm perguntado mais, interagido mais, e alguns estão conseguindo se concentrar mais, estudar mais, dar conta do material que, de repente na sala de aula, com tem uma série de eventos acontecendo, às vezes se distrai, pensa em alguma coisa e não consegue focar tanto”, explica.
'A adaptação tem sido uma busca incessante de conhecimento'
No caso de Márcia, ela se prepara para aulas que acontecem três vezes na semana, no entanto, em um dos dias, elas acontecem de manhã e de noite. Cada disciplina tem uma duração de três horas por dia. “Eu tento dar a mesma carga horária e a gente faz um momento de construção de conhecimento sobre o conteúdo, um momento de dúvida, sugestões, debate, conversa, diálogo, e em seguida fazemos uma atividade para o processo de aprendizagem com relação ao conteúdo. Geralmente, na semana, eu daria 12 horas/aulas, então estamos seguindo a mesma lógica”, ressalta.
Não diferente da sala presencial, nem todo mundo entra na sala virtual na hora exata. No entanto, tem dias que chegam até o horário, tem dias que ultrapassam, tem dias que finalizam antes e a atividade fica para ser feita no momento mais oportuno para cada aluno.
“A adaptação tem sido uma busca incessante de conhecimento para que os alunos não sofram tanto com esse processo de mudança. As tecnologias têm ajudado bastante. Dizer que é fácil, não é, porque não estávamos preparados para isso. Mas é uma mudança que está sendo possível. As ações estão sendo positivas, porque está dando continuidade à vida, ao processo de conhecimento, para não ter a sensação de que o tempo parou, e é importante para que as pessoas tenham a manutenção da sua rotina”, opina a professora.
Instituições públicas
A Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) decidiram prorrogar a suspensão das aulas, em virtude do crescimento de casos de coronavírus no Estado.
A previsão da UEPB e da UFCG era retornar às aulas no dia 18 de maio, mas o prazo foi adiado até o dia 14 de junho. Uma nova reunião com os gestores das instituições de ensino superior da Paraíba deve acontecer no dia 5 de junho para reavaliar as condições de retorno das atividades.
Já o Instituto Federal da Paraíba (IFPB) está com as aulas suspensas até o dia 29 de maio em todos os campi. Antes do vencimento do prazo, o IFPB deve reunir seus dirigentes para rediscutir a data.
A Universidade Federal da Paraíba (UFPB) suspendeu o calendário acadêmico do período de 2020.1 também em todos os campi da instituição. O Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) irá discutir alternativas para atividades de pesquisa, ensino e extensão durante o isolamento social.
G1 PB
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