O Ministério da Educação (MEC) divulgou nesta terça-feira (18) um programa de alfabetização chamado Tempo de Aprender. Ele é voltado para formação de professores, reestruturação de material didático e aplicação de um teste nacional em alunos em fase de alfabetização, entre outras medidas. De um modo geral, a adesão às iniciativas do Tempo de Aprender serão voluntárias: cada rede municipal ou estadual poderá decidir se vai oferecer as ações do programa em suas escolas.
Na apresentação do programa, que não contou com a abertura de perguntas feitas pelos jornalistas, o secretário de Alfabetização do MEC, Carlos Nadalim, disse que o foco do programa são os professores do último ano do ensino infantil e dos primeiros anos do ensino fundamental. O Tempo de Aprender é segunda ação da Política Nacional de Alfabetização, que já tinha lançado o “Conta pra mim”, que incentiva pais a lerem para os filhos.
Durante a apresentação do programa, em Brasília, o Ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmou que os resultados da alfabetização no Brasil não são bons e que o ministério tem sentido "preconceito" sobre os novos métodos adotados pelo governo.
"Estamos trazendo técnica de uma forma aberta. Não estamos impondo nada, mas sentimos um preconceito. Eu peço um gesto de boa vontade a todos para estarem abertos a ouvirem técnicas que trouxemos lá de fora, para melhorar a alfabetização no Brasil" - Abraham Weintraub, ministro da Educação
O Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) divulgou nota na qual afirma receber com "cautela e preocupação" as ações propostas no programa.
"Além das incertezas geradas pelo caráter ainda genérico das informações apresentadas, o Consed avalia que a alfabetização tem sido, até aqui, o principal fator impulsionador do regime de colaboração construído entre estados e municípios" - Consed
O Conselho propõe que o programa seja mais debatido com os Estados e municípios, "que o papel de articulador dos estados seja valorizado e potencializado; que eventuais adesões ao programa sejam feitas primeiramente pelos sistemas, sem limitações à prerrogativa dos estados e municípios escolherem ações que possam complementar políticas já em curso em seus respectivos territórios; e, sobretudo, que as políticas já implementadas não sofram reveses ou concorrências de qualquer natureza", conclui a nota.
João Marcelo Borges, diretor de Estratégia Política do Todos Pela Educação, afirmou ao G1 que houve demora na apresentação da política, mas a considera como um passo positivo.
"O programa 'Tempo de Aprender' e a Política Nacional de Educação são embasados em evidências científicas robustas, alinhadas às melhores práticas adotadas em boa parte de sistemas educativos de alto desempenho" - João Marcelo Borges, diretor de Estratégia Política do Todos Pela Educação
Borges ressaltou, porém, que o Todos pela Educação expressa a mesma cautela mencionada pelo Consed "relativa à necessidade de integrar melhor a iniciativa federal com os esforços que já vêm sendo feitos nos âmbitos dos Estados, sobretudo aqueles que iniciaram ou já têm desenvolvido, há muitos anos, estratégias em regime de colaboração para a alfabetização."
4 eixos do programa
O programa está construído em 4 eixos: formação continuada de profissionais da alfabetização; apoio pedagógico para a alfabetização; aprimoramento das avaliações da alfabetização e valorização dos profissionais de alfabetização.
Veja o que se sabe sobre cada um dos pontos:
1. Formação continuada de profissionais da alfabetização
O projeto do MEC prevê, neste eixo, três focos:
2 . Apoio pedagógico para a alfabetização
Neste eixo, três ações foram apresentadas:
3. Aprimoramento das avaliações da alfabetização
Neste eixo, o MEC afirmou que destinará um orçamento de R$ 20 milhões. Apesar de ter um orçamento, ainda não há explicações de como essas avaliações vão ser desenvolvidas e aplicadas.
4. Valorização dos profissionais de alfabetização
No último eixo, o foco se baseia em premiar os profissionais da educação:
O que é a Política Nacional de Alfabetização?
A Política Nacional de Alfabetização é um decreto publicado em abril que prevê, entre outras mudanças, que o ensino infantil reforce as atividades de pré-alfabetização, e que haja esforço extra para concluir o ensino da leitura já no primeiro ano do ensino fundamental.
Entre os objetivos do decreto publicado está cumprir a meta 5 do Plano Nacional de Educação (PNE). A meta, que entrou em vigor em 2014 e tem vigência até 2024, diz que todas as crianças devem ser alfabetizadas até no máximo o final do 3º ano do fundamental, ou seja, aos 8 anos de idade.
A política também prioriza um método de ensino sobre os demais: o chamado método fônico, classificado no decreto como uma lista de "seis componentes essenciais para a alfabetização".
Segundo especialistas ouvidos pelo G1, a criação de uma política nacional de alfabetização é positiva, mas a priorização de um único método pode levar à padronização do ensino, e o risco disso é limitar tanto as possibilidades de os professores ensinarem, quanto as possibilidades de os alunos aprenderem.
G1
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