O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central avaliou nesta terça-feira (11) que o "atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela na condução da política monetária", ou seja, na definição da taxa Selic.
A avaliação foi feita por meio da ata de sua última reunião, quando o comitê baixou os juros básicos de 4,5% para 4,25% ao ano (mínima histórica).
"Considerando os efeitos defasados do ciclo de afrouxamento iniciado em julho de 2019 [cortes de juros já efetuados], o Comitê vê como adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária [redução da taxa básica]", informou.
O Banco Central acrescentou, porém, que "seus próximos passos continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação, com peso crescente para o ano-calendário de 2021".
Com isso, o BC não afastou completamente a possibilidade de novas reduções na Selic.
Essa análise foi feita pelo Banco Central antes da divulgação do IPCA de janeiro, que ficou em 0,21%– a menor taxa para esse mês desde o início do Plano Real, em julho de 1994. Em doze meses até janeiro, a inflação somou 4,19%, ainda influenciada pela disparada de 1,15% em dezembro, resultado da alta da carne.
Como a decisão é tomada
A principal missão do Banco Central é controlar a inflação, tendo por base o sistema de metas. Para este ano, a meta central de inflação é de 4%, podendo oscilar de 2,5% a 5,5%. Para 2021, o objetivo central é de 3,75% (com oscilação de 2,25% a 5,25%).
Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas, o BC pode reduzir os juros. Entretanto, quando estão acima da trajetória esperada, a taxa Selic é elevada.
A expectativa do mercado financeiro para o índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – a inflação oficial – para 2020 e 2021 estão comportadas. Para este ano, a previsão do mercado é de que a inflação fique em 3,25% e, para o próximo, em 3,75%.
Na semana passada, o BC informou que suas estimativas de inflação, para 2020 e 2021, situam-se ao redor de 3,5% e de 3,75%. As projeções consideram um cenário de dólar alto (R$ 4,25) e alta dos juros básicos para 6% ao ano no fim de 2021 – conforme previsão do mercado financeiro.
PIB, coronavírus e ociosidade da economia
De acordo com o Banco Central, dados de atividade econômica divulgados desde o final do ano passado indicam a "continuidade do processo de recuperação gradual da economia brasileira".
O Copom avaliou, ainda, que indicadores também mostram uma "dicotomia" (oposição) entre a evolução do mercado de trabalho e o crescimento da produção de bens e serviços.
"Enquanto o mercado de trabalho segue em recuperação gradual, os dados recentes de produção industrial e os indicadores preliminares de investimento tiveram desempenho abaixo do esperado", explicou a instituição.
Segundo o BC, a dicotomia dos últimos dados "sugere que pode haver menos espaço de ociosidade do que o mensurado por métodos tradicionais".
Porém, alguns integrantes do Copom afirmaram que a dinâmica dos núcleos de inflação (uma medida que procura captar a tendência dos preços, desconsiderando resultados de choques temporários) "sinaliza que a ociosidade dos fatores de produção ainda é elevada".
No caso do coronavírus, que tende a afetar a economia mundial e, consequentemente o PIB brasileiro, para baixo, o BC avaliou que o "eventual prolongamento ou intensificação do surto implicaria uma desaceleração adicional do crescimento global, com impactos sobre os preços das commodities e de importantes ativos financeiros [alta do dólar, por exemplo]".
"O Copom concluiu que a consequência desses efeitos para a condução da política monetária [definição da taxa básica de juros] dependerá da magnitude relativa da desaceleração da economia global versus a reação dos ativos financeiros", concluiu a instituição.
G1
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