O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta sexta-feira (24) que a política monetária não é definida com base no IPCA, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo, considerado a 'inflação oficial' do Brasil.
"Ninguém faz política monetária olhado o IPCA, ainda que mais que sabemos que tem muitos fatores atípicos [na inflação atualmente]", disse em evento realizado pela XP Investimentos em São Paulo.
Na quinta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgou que o IPCA-15, considerado a prévia da inflação oficial, avançou 0,71% em janeiro, no maior resultado para o mês desde 2016.
A alta gerou no mercado expectativa de que o ciclo de corte dos juros básicos se encerre em breve, o que se refletiu na taxa de câmbio ao longo do dia.
Entre os eventos atípicos, Campos Neto destacou a pressão inflacionária dos preços da carne, que subiram com força no fim de 2019.
"Nesse cenário estamos confortáveis. O choque [das proteínas] veio mais rápido [do que o esperado], mas achamos que ele também se dissipa mais rápido", afirmou. "Para a política monetária, o que olhamos é um prazo mais longo do que o IPCA", reforçou.
O presidente do BC afirmou ainda que não se sente incomodado com o baixo patamar da chamada inflação implícita – a diferença entre as taxas de juros nominal e real. O indicador tem girado próximo de 3,5%, em alguns cálculos, abaixo da meta de 4% estipulada pelo BC para este ano.
"3,5% não me incomoda, o que não quer dizer que a gente não mire sempre estar no target [alvo] da inflação", disse.
Câmbio e saída de estrangeiros
Para Campos Neto, a desvalorização do câmbio atualmente é diferente da observada no passado, quando o dólar subia e o risco-país também aumentava.
"Hoje temos uma melhora na percepção de risco, muito em função do fiscal", afirmou. "O que permitiu essa melhora recente, foi um avanço em comunicar uma disciplina fiscal", emendou, destacando que o país precisa continuar com a agenda de reformas.
Na avaliação do presidente do BC, a saída de estrangeiros da bolsa brasileira não significa falta de confiança na economia do país, mas se deve à queda dos juros, que faz com que outros mercados sejam mais atraentes para os investidores.
"Se continuarmos fazendo o dever de casa os estrangeiros vão voltar", disse.
Regras do cartão de crédito ficam como estão
Campos Neto também disse que a autoridade monetária não estuda nenhuma intervenção nas regras do rotativo do cartão de crédito, apesar de os juros da modalidade estarem subindo e serem "bastante altos".
"Não estudamos nenhum tipo de intervenção de nenhuma forma nesse produto", afirmou. "É um produto que tem particularidades, mas queria enfatizar que não temos nenhuma medida nesse sentido", reforçou.
Os juros do cartão crédito rotativo para pessoas físicas subiram de 317,6% ao ano em outubro para 318,3% ao ano em novembro, segundo dados do BC. Na parcial de 2019, o crescimento foi de 32,9 pontos percentuais em relação fim de 2018, quando a taxa estava em 285,4% ao ano.
Campos Neto afirmou que "gera indagação" o fato de a quantidade de parcelas nas compras com cartão não terem diminuído diante da queda dos juros, mas sim, aumentado.
"Existia uma expectativa por parte dos reguladores de que a parcela sem juros ia diminuir o duration (prazo médio de recebimento das vendas), porque o ganho que você tem em parcelar é menor. Só que o que está acontecendo é o contrário. O que aconteceu é que tá aumentando o duration", disse.
Segundo ele, isso ocorre porque a decisão de dividir ou não a compra é do vendedor, que acaba recomendando o parcelamento para fazer com que a prestação caiba no bolso do cliente e o valor total da compra seja maior.
O presidente do Banco Central disse ainda que, com exceção do rotativo do cartão e do cheque especial – que teve os juros limitados a 8% ao mês (cerca de 150% ao ano) em janeiro – todas as outras modalidades de crédito "têm uma competição saudável".
G1
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