O dólar operou com volatilidade boa parte do dia, mas fechou em alta nesta terça-feira (18), com investidores de olho nas novas falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Lula disse que o Banco Central (BC) é a "única coisa desajustada" no Brasil e que o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, "trabalha para prejudicar o país".
"Só temos uma coisa desajustada neste país: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Presidente que tem lado político, que trabalha para prejudicar o país. Não tem explicação a taxa de juros estar como está", afirmou Lula, em entrevista à Rádio CBN.
A declaração vem na véspera da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, que acontece nesta quarta-feira (19) e vai definir o rumo da Selic, taxa básica de juros. A expectativa do mercado é que o colegiado mantenha os juros inalterados em 10,50% ao ano.
O Ibovespa, principal índice da bolsa de valores brasileira, opera em alta.
Dólar
O dólar subiu 0,22%, cotado a R$ 5,4335. Na máxima do dia, já bateu R$ 5,444.
Com o resultado, acumulou altas de:
No dia anterior, a moeda norte-americana subiu 0,73%, cotada a R$ 5,4214. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,4304.
Ibovespa
Por volta das 17h, o Ibovespa subia 0,30%, aos 119.497 pontos.
Na véspera, o índice fechou com baixa de 0,44%, aos 119.138 pontos.
Com o resultado, acumulou quedas de:
O que está mexendo com os mercados?
Em uma semana em que os olhos do mercado doméstico estão voltados para o Copom, na expectativa por qual será a postura do BC em relação aos juros, as novas declarações do presidente Lula pesam negativamente sobre os ativos brasileiros, o que ajuda a explicar a desvalorização do real em relação ao dólar.
Enquanto investidores e especialistas esperam por uma manutenção da taxa Selic em 10,50% ao ano, Lula voltou a criticar a postura do BC em relação aos juros, afirmando que o país não precisa de uma taxa elevada.
"Temos situação que não necessita essa taxa de juros. Taxa proibitiva de investimento no setor produtivo. É preciso baixar a taxa de juros compatível com a inflação. Inflação está controlada. Vamos trabalhar em cima do real", completou.
Sobre o presidente do BC, Lula disse que Roberto Campos Neto tem pretensões políticas e sugeriu que ele pode assumir um cargo no Governo do Estado de São Paulo quando seu mandato acabar: "A quem esse rapaz é submetido? Como vai a festa em SP quase assumindo candidatura a cargo no governo de SP? Cadê a economia dele?", questionou.
Vale lembrar que o mandato de Campos Neto acaba em 2024 e que, desde 2021, a legislação brasileira determina a autonomia do BC, que deve tomar suas decisões sem interferência política. No entanto, Lula afirmou que vai indicar para a presidência da instituição alguém com "compromisso com o crescimento do país".
A legislação determina que o presidente e os diretores do BC terão mandatos de 4 anos não coincidentes com a presidência da República - um novo presidente assume o BC, então, no terceiro ano de mandato de cada presidente da República.
Cabe ao presidente da república indicar nomes para o comando do BC, mas estes só serão aprovados com aval do Senado Federal.
Junto a isso, pesa a incerteza fiscal sobre o Brasil. Na última semana, falas do presidente Lula aumentaram a percepção de que o governo não conseguirá reduzir seus gastos, o que fez disparar o preço do dólar.
Na entrevista à CBN, Lula também foi questionado sobre corte de gastos do governo, outr ponto de tensão nos mercados nos últimos dias. Ele afirmou que o governo prepara uma proposta de Orçamento para encaminhar ao Congresso, mas não deu detalhes sobre redução de despesas.
Perguntado sobre gastos com previdência, despesas com saúde e educação e aposentadoria de militares, Lula disse que "nada é descartável".
Ontem, em entrevista a jornalistas após reunião com o presidente Lula para analisar as contas do governo e preparar a elaboração do Orçamento de 2025, os ministros da Fazenda, Fernando Haddad e do Planejamento, Simone Tebet, afirmaram que o nível elevado de renúncias fiscais na conta do governo federal chamou a atenção do presidente.
"São duas grandes preocupações: o crescimento dos gastos da Previdência e da renúncia tributária. E o aumento dos gastos da Previdência está relacionado também ao aumento das renúncias tributárias", disse Tebet.
"Esses números foram apresentados ao presidente. Ele ficou extremamente mal impressionado com o aumento dos subsídios", acrescentou a ministra.
Além disso, outro fator que tem impulsionado o dólar nas últimas semanas é a perspectiva de juros altos por mais tempo nos Estados Unidos. Analistas previam que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deveria iniciar um ciclo de corte nas taxas no começo do ano, o que não aconteceu.
Agora, o mercado espera que isso ocorra somente uma vez nos últimos três meses de 2024, tendo em vista que a economia dos Estados Unidos se mostrou resiliente durante todo o primeiro semestre.
g1
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