A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) avaliou nesta segunda-feira (18) que a dÃvida pública brasileira continuará a crescer nos próximos anos, podendo atingir 90% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2047.
Para a entidade, o avanço da dÃvida do Brasil continuará mesmo com a aprovação neste ano da nova regra para as contas públicas – o arcabouço fiscal – e da reforma tributária sobre o consumo.
A estimativa consta do relatório econômico sobre o Brasil da OCDE – grupo formado principalmente por nações mais desenvolvidas. Para enfrentar a situação, a entidade recomenda novas reformas.
"Um pacote mais ambicioso de reformas estruturais impulsionaria o crescimento potencial e conduziria a uma diminuição da relação dÃvida/PIB", acrescentou a OCDE, no relatório.
Em outubro deste ano, a dÃvida do setor público consolidado somou 74,7% do PIB, cerca de R$ 7,9 trilhões (entenda a relação entre dÃvida e taxa de juros aqui).
Na comparação com o final do ano passado, quando a dÃvida estava em R$ 7,22 trilhões, ou 72,9% do PIB (dado atualizado), porém, houve uma alta de 1,8 ponto percentual.
O Brasil ingressou em 2017, durante o governo do presidente Michel Temer, com um pedido formal de adesão à OCDE, que foi mantido nos governos do presidente Jair Bolsonaro e, mais recentemente, de Luiz Inácio Lula da Silva.
Reformas adicionais
De acordo com a OCDE, um pacote ambicioso de reformas pode estimular a economia nos próximos anos e, se implementadas, reduzir o ritmo de crescimento da dÃvida pública brasileira que, mesmo assim, atingiria 80% do PIB em 2047.
Entre as reformas propostas, estão:
Regras para as contas públicas
De acordo com a OCDE, o reforço das regras para as contas públicas será fundamental para a sustentabilidade da dÃvida e a confiança dos investidores.
A recomendação da entidade é que o Brasil mude o formato dos atuais pisos de gastos em saúde e educação, que estão ligados ao crescimento da receita – algo que a equipe econômica do governo Lula já indicou que buscará fazer para o ano de 2025.
A proposta da OCDE é que essas despesas passem a ser corrigidas pela inflação. Com isso, esses gastos em saúde e educação cresceriam menos nos próximos anos.
"Embora garantir financiamento suficiente para a saúde, a educação e a segurança social seja compreensÃvel a partir de uma polÃtica social perspectiva, isso limita a flexibilidade da polÃtica fiscal [das contas públicas] para dar conta das mudanças demográficas ou ajustar-se a choques econômicos adversos", opina a OCDE.
A entidade também recomendou que o Brasil "repense" algumas indexações automáticas das regras de gastos, o que permitiria uma flexibilidade maior para ajustar as polÃticas a novas prioridades.
A recomendação da OCDE é que benefÃcios sociais, como aposentadorias, sejam atrelados à inflação, e não mais ao salário mÃnimo – que, pelo novo formato aprovado, subirá mais do que variação dos preços.
"O valor mÃnimo de benefÃcios previdenciários, que a esmagadora maioria dos beneficiários de pensões recebe, são indexados ao salário mÃnimo, levando a aumentos do salário mÃnimo com implicações fiscais consideráveis. A indexação levou a um aumento considerável nas despesas obrigatórias e à redução do espaço fiscal", avaliou a OCDE.
A entidade também avaliou que há espaço para consolidar vários programas de proteção social para reduzir duplicação de benefÃcios e poupar recursos que poderiam ser redirecionados para proteger os mais vulneráveis.
E considerou que novas reformas da Previdência Social podem ser necessárias para estabilizar as despesas com pensões nos próximos anos e conter o aumento do déficit.
Ao mesmo tempo, também informou que uma reforma administrativa poderia gerar uma redução de gastos de até 8% do PIB em dez anos.
Todas essas recomendações já haviam sido feitas por analistas do setor privado, que avaliam que a equipe econômica do governo tem falhado ao não dar ao corte de gastos o mesmo peso que tem dado à elaboração de medidas de aumento de arrecadação.
A organização também julgou que é essencial manter as expectativas de inflação "ancoradas" com as metas definidas pelo governo para preservar a credibilidade da moeda. E recomendou limitar as pressões de demanda, ou seja, os gastos públicos.
Para a OCDE, o aumento da credibilidade da polÃtica para as contas públicas no longo prazo apoiaria a polÃtica monetária (definição dos juros pelo Banco Central) no controle da inflação e permitiria uma redução mais agressiva da taxa básica de juros - atualmente em 11,75% ao ano.
O secretário de Politica Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, afirmou que o arcabouço fiscal, ao limitar despesas, busca a estabilização da dÃvida pública no futuro. "A discussão é sobre a velocidade do processo", declarou.
Ele acrescentou que o governo está atento à agenda de redução de gastos, além de benefÃcios fiscais, para estimular o crescimento da economia e a redução dos juros pelo BC. "A redução dos juros é o elemento mais decisivo, junto com o crescimento econômico, para redução da dÃvida", concluiu.
Entenda a relação entre o endividamento e a taxa de juros
A relação entre dÃvida e PIB é um indicador relevante para o mercado financeiro, interpretado como um sinal da capacidade do paÃs de honrar seus compromissos financeiros de curto, médio e longo prazo. Quanto maior a dÃvida em relação ao PIB, maior o risco de um calote em momentos de crise.
As projeções para a dÃvida pública no futuro, junto com outros indicadores como no ritmo de crescimento do paÃs e os resultados das contas públicas, são usados pelo mercado para fixar a taxa de juros no mercado futuro, que serve de referência para o que o governo paga nas emissões de tÃtulos públicos - a chamada "rolagem" da dÃvida.
Se há uma percepção de que o endividamento será maior, assim como o risco nas contas públicas, o mercado costuma reagir cobrando uma taxa maior de juros. E isso impulsiona o endividamento do paÃs, e também tem impacto nas taxas cobradas pelos bancos das pessoas fÃsicas e empresas.
g1
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