A inflação voltou a circular dentro do intervalo da meta estabelecida pelo governo nos últimos dois anos. O movimento ainda deve persistir até junho e voltar a acelerar no segundo semestre, quando a base de comparação incluirá os três meses de deflação oriundos do corte de impostos para reduzir o preço dos combustíveis e da energia elétrica.
O limite do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) perseguido pelo governo para o período entre janeiro dezembro de 2023 é de 4,75%, valor 1,5 ponto percentual acima da meta traçada, de 3,25%. Já o patamar atual é de 4,19% para os 12 meses finalizados em abril, após duas aparições do índice oficial dento do intervalo da meta desde o início de 2021.
André Braz, economista do FGV/Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), avalia que a inflação oficial ainda deve desacelerar até junho e ficar, até lá, próxima do centro da meta estabelecida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).
Na percepção de Braz, a meta voltará a ser furada devido à cobrança de impostos, que ficou suspensa ao longo de todo o segundo semestre do ano passado e voltou a ser realizada por causa da necessidade de ajuste das contas públicas. "Era algo bem eleitoreiro, e agora a realidade bate à porta", diz o economista.
"Aquele recuo que tivemos na inflação do ano passado foi artificial", acrescenta Braz ao avaliar que o IPCA deveria ter fechado 2022 na casa dos 9%, não em 5,79%, como foi apresentado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Alexandre Maluf, economista da XP, afirma que os cortes de impostos atingiram os valores dos combustíveis e da energia elétrica, dois subitens de maior peso para o cálculo da inflação oficial. Agora, ele explica que a reoneração vai pesar no bolso das famílias.
“Como essas medidas foram muito danosas às finanças dos estados, a solução foi a introdução de um imposto da ordem de R$ 1,22 por litro de gasolina a partir de junho, o que vai ajudar a recompor a situação dos estados”, diz Maluf.
A tendência de alta do índice oficial foi citada também na última ata do Copom (Comitê de Política Monetária) como justificativa para manter a taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% ao ano, o maior nível dos últimos seis anos. A decisão é alvo de críticas do governo e do setor produtivo.
"No segundo semestre de 2023, como os efeitos das medidas tributárias que reduziram o nível de preços no terceiro trimestre de 2022 não estão mais incluídos na inflação acumulada em 12 meses e ainda se terá a inclusão dos efeitos das medidas tributárias deste ano, se observará elevação do mesmo indicador", preveem os diretores da autoridade monetária.
Para o próprio BC, a chance de o IPCA fechar 2023 dentro da meta ainda é remota, de apenas 17%, conforme números apresentados no último RTI (Relatório Trimestral de Inflação). Se confirmado, o resultado será o terceiro furo consecutivo da meta de inflação.
Na percepção de analistas do mercado financeiro, a variação projetada para a inflação no fim deste ano é de 6,02%, nível 1,2 ponto percentual acima do limite estabelecido pelo CMN e desejado pelo governo e pelo Banco Central.
R7
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