Os financiamentos imobiliários com a caderneta da poupança, a principal fonte de recursos do setor, somaram R$ 179,2 bilhões em 2022, uma queda de 12,8% em relação ao observado no ano anterior. Em dezembro, esse número foi de R$ 14 bilhões – nesse caso, o recuo foi de 16,4% em comparação ao mesmo mês de 2021. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (2) pela Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).
Somando os empréstimos feitos com recursos do FGTS, o setor concedeu R$ 240,8 bilhões em crédito imobiliário no ano passado. Apesar de o número representar uma retração de 5% em comparação a 2021, ele ainda marca o segundo melhor desempenho da série histórica da associação.
De acordo com o presidente da Abecip, José Ramos Rocha Neto, o movimento reflete o patamar elevado das taxas de juros do país e a tendência de queda para o setor deve continuar neste ano.
Dados de projeções da Abecip, por exemplo, apontam para uma retração de 8% no total de financiamentos do setor neste ano, para R$ 221 bilhões. Na abertura dos dados, a previsão é de uma queda de 13% dos empréstimos feitos com recursos da poupança, para R$ R$ 156 bilhões. Na contramão, a expectativa para as concessões de crédito feitas com recursos do FGTS é de uma alta de 5% em 2023, para R$ 65 bilhões.
“Estamos com uma inflação muito acima da meta e isso provavelmente vai continuar em 2023 e, com isso, as taxas de juros deverão se manter em patamares considerados altos. Mas acreditamos que [o saldo da] poupança continuará resiliente. Podemos ter no final de 2023 uma poupança que se manterá estável ou com ligeira queda, mas com um saldo maior do que os R$ 658 bilhões, vistos no final de 2020”, afirmou Rocha.
Em 2022, o saldo total da caderneta ficou em R$ 764 bilhões - queda de 3,3% em comparação a 2021. Já o saldo do FGTS ficou em R$ 502 bilhões, um aumento de 7% na mesma base de comparação.
Alto custo de crédito
Além disso, outro fator que ajuda a explicar o aumento das taxas é o custo das linhas de crédito imobiliário para as instituições financeiras. Segundo Rocha, os bancos que atuam no SBPE já estão aplicando mais recursos no crédito imobiliário do que o percentual obrigatório de 65% de uso do saldo da poupança.
"Por isso também as taxas começaram também a subir, porque um pedaço desse aumento é composto pelo LCI [Letra de Crédito Imobiliário], LIG [Letra Imobiliária Garantida] pelo próprio CDI [Certificado de Depósito Interbancário], que estão ligados ao custo do dinheiro", diz o executivo, completando que mesmo que o Banco Central corte a taxa básica de juros (Selic) neste ano, as taxas do crédito imobiliário devem continuar em patamares elevados, podendo até ter ovas elevações.
"Provavelmente já temos algumas instituições trabalhando com juros [no crédito imobiliário] na casa de dois dígitos, e devemos ver mais associados trabalhando com taxas nessa faixa, podendo trazer alguma alta nos próximos meses. Esse cenário tende a ser um dos responsáveis para que o volume de financiamentos sejam mais baixos em 2022", acrescenta.
O executivo também afirmou que, em linha com as sinalizações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a expectativa é que haja uma aceleração nos financiamentos de baixa renda, voltados para empréstimos do Programa Casa Verde e Amarela (que deve voltar a se chamar Minha Casa Minha Vida).
Os distratos (rescisão ou anulação de um contrato), por sua vez, podem voltar a crescer neste ano. "Se tivermos níveis de desemprego com ligeiros aumentos, o que pode acontecer, talvez vejamos um número de distratos um pouco maior do que em 2022, mas que ainda não ultrapassa o que vimos em 2021", completa Rocha.
Segundo a Abecip, no ano passado, o percentual de distratos em relação ao volume de vendas em São Paulo ficou em 5,1%, uma queda de 1,1 ponto percentual (p.p.) em comparação ao ano anterior (6,2%).
Fontes alternativas de recursos
Outro ponto abordado pelo presidente da associação foi o crescimento de recursos captados por outros meios além dos mais tradicionais (SBPE e FGTS). Segundo a Abecip, apesar de a caderneta de poupança e o FGTS continuarem como as duas principais "estruturas de funding" do setor - com participações de 40% e 26% do saldo total, respectivamente -, outras modalidades começam a ganhar espaço - caso da LCI e da LIG, por exemplo.
O principal destaque fica com o saldo da LIG, por exemplo, que foi de R$ 48 bilhões em 2021 para R$ 90 bilhões no ano passado, registrando uma alta de 87% no período. Em seguida veio a LCI, com um aumento de 70% em igual base de comparação, de R$ 141 bilhões para R$ 239 bilhões. Já o saldo dos Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) subiu 39% na mesma relação, de R$ 106 bilhões para R$ 148 bilhões.
"A poupança vem se mostrando resiliente, mas já começa a sentir os efeitos do crescimento dos outros agentes de 'funding'. Acredito que a participação da LIG e da LCI [no saldo total do setor] continuará aumentando e provavelmente devem ter uma fatia maior [da captação] neste ano", diz.
g1
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