A Petrobras distribuirá, ao todo, mais de R$ 217 bilhões em dividendos aos acionistas no ano de 2022. A União, que detém 28,7% dos papéis, ficará sozinha com R$ 62 bilhões neste ano.
O levantamento foi realizado por Einar Rivero, da Trade Map, depois que a estatal decidiu na quinta-feira (3) antecipar o pagamento de distribuição de R$ 43,7 bilhões em dividendos a seus acionistas. Até o mês de setembro, a estatal distribuiu R$ 173 bilhões.
"Os R$ 217 bilhões dariam para comprar todas as ações da incorporadora PDG e ainda sobraria dinheiro. O volume de dividendos distribuídos no terceiro trimestre de 2022, de R$ 111 bilhões, é o maior valor já desembolsado por uma empresa de capital aberto historicamente", lembra Rivero.
O montante total é três vezes maior do que o dividendo pago pela Petrobras em 2021. Os lucros recordes da empresa neste ano têm relação com a explosão dos preços do barril de petróleo no mercado internacional, consequência da retomada econômica depois da fase aguda da pandemia e do início da guerra na Ucrânia.
No terceiro trimestre deste ano, a Petrobras registrou lucro líquido de R$ 46,096 bilhões. O resultado ficou 15,2% abaixo dos R$ 54,330 bilhões reportados no segundo trimestre.
Segundo a petroleira, o resultado menor nessa comparação é explicado principalmente pela desvalorização do petróleo Brent, além de ausência de ganho de R$ 14,2 bilhões referente ao acordo de coparticipação em Sépia e Atapu ocorrido no segundo trimestre.
Ainda assim, os resultados da empresa estão muito acima da média. No primeiro semestre, a empresa chegou a um lucro acumulado de quase R$ 100 bilhões. Os R$ 98,891 representam alta de 124,6% em relação a igual período de 2021.
Dividendos polêmicos
A decisão da Petrobras de antecipar os dividendos irritou o futuro governo Lula (PT), que começou a organizar a transição nesta semana. A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, criticou a decisão da empresa e disse que ela visa pagar parte da gastança eleitoral do governo neste ano eleitoral.
"Isso é uma irresponsabilidade com a empresa e com o país. É a farra do [ministro da Economia] Paulo Guedes, para cobrir os gastos eleitorais do governo Bolsonaro", afirmou a presidente do PT, que integra a equipe de transição.
Integrantes da estatal acusam ainda a estatal, comandada por Caio Paes de Andrade, de segurar o aumento dos combustíveis durante o período eleitoral para não prejudicar o presidente Jair Bolsonaro.
Segundo eles, a Petrobras já teria de aumentar o preço da gasolina e do diesel desde o início do segundo turno, mas decidiu segurar o reajuste por uma questão política.
Mas os lucros da petroleira não foram alvo exclusivo dos petistas. Em março, em meio à crise de valorização dos combustíveis, o presidente Jair Bolsonaro disse que a Petrobras registra "lucro absurdo" em um "momento atípico no mundo" e que ficou insatisfeito com os reajustes nos preços dos combustíveis anunciados pela empresa.
"Olha só, eu tenho uma política de não interferir. Sabemos das obrigações legais da Petrobras e, para mim, particularmente falando, é um lucro absurdo que a Petrobras tem num momento atípico no mundo. Então, não é uma questão apenas interna nossa", disse Bolsonaro, em março.
Meses depois, o presidente fez apelos para que a Petrobras não voltasse a aumentar o preço dos combustíveis no Brasil. Aos gritos, durante uma transmissão ao vivo por redes sociais, o presidente afirmou que os lucros registrados recentemente pela empresa são "um estupro", beneficiam estrangeiros e quem paga a conta é a população brasileira.
Desde o início do governo Bolsonaro, em janeiro de 2019, a Petrobras teve cinco presidentes, incluindo o interino, Fernando Borges. O atual é Caio Paes de Andrade, que foi aprovado pelo conselho da estatal em junho.
A estatal também foi presidida por José Mauro Coelho, pelo general Joaquim Silva e Luna e pelo economista Roberto Castello Branco. Todos caíram em situações em que o governo fez trocas sistemáticas de presidentes da Petrobras com base num discurso de insatisfação com a alta dos preços dos combustíveis.
g1
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