A disparada no preço da gasolina tem dificultado a vida dos motoristas de aplicativos como Uber e 99 e levou a uma devolução de 30 mil veículos às locadoras de automóveis de junho até agora, disse o presidente da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), Paulo Miguel Junior.
“Acreditamos em retomada do mercado, se o preço do combustível voltar para um patamar mais baixo e se os aplicativos reajustarem o valor da tarifa, dando possibilidade para que eles (os motoristas) recomponham a renda mensal”, disse, durante coletiva nesta terça-feira.
Atualmente, muitos usuários estão com dificuldade em conseguir motoristas de aplicativos nas grandes cidades. Os aplicativos negam que há falta de motoristas, embora as associações que representam a categoria já sinalizaram uma debandada.
Segundo a Abla, os motoristas de aplicativo alugavam 200 mil veículos das locadoras no início do ano passado. Esse número chegou a cair cerca de 80% no pico da crise, entre abril e maio, mas se recuperou no fim do ano.
As novas perdas passaram a chegar depois de junho deste ano, na esteira do aumento no preço da gasolina, o que inviabiliza o negócio no lado dos motoristas. Hoje, o segmento aluga cerca de 170 mil veículos das locadoras.
“Mas a gente tinha espaço para ter até uns 220 mil, 230 mil veículos de aplicativo, se tivesse frota e se o mercado estivesse bom. Nossa previsão é de crescimento para o futuro”, disse.
Idade da frota
Diante da dificuldade das montadoras de veículos na produção, sobretudo com a crise provocada pela falta de semicondutores no mercado, a idade média da frota das locadoras de automóveis do país disparou de algo entre 14 e 15 meses para 23 meses, segundo Miguel Junior.
As locadoras menores, com menos poder de barganha do que as gigantes como Localiza, Unidas e Movida, estão sofrendo ainda mais.
“Tem carro chegando a 36 meses (sobretudo na terceirização de frota)”, disse, acrescentando que, nas líderes do setor, a idade média também subiu, mas está na casa dos 15 meses no aluguel de carros (RAC).
Com a crise, as montadoras estão pedindo entre 240 e 300 dias para entregar os veículos. Antes, o prazo rondava 90 dias a depender do modelo. “Esse prazo é dado, mas ainda sujeito a todas as interferências possíveis de paralisação. Nossa programação de recebimento de veículos está muito desajustada. Eles não conseguem prever efetivamente a entrega”, disse Miguel.
Em setembro, a montadora que mais vendeu veículos às locadoras foi a Fiat, com 105 mil. Os veículos mais comprados pelas empresas do setor foi o Fiat Mobi (27,5 mil unidades), Fiat Argo (26,6 mil unidades) e o VW Gol (26 mil).
Miguel disse que a falta de semicondutores no mercado global é uma realidade a ser enfrentada pelo menos até 2023.
“A crise com certeza vai se estender para 2022. E quem sabe vamos normalizar isso em 2023 quando novas fábricas de semicondutores vão entrar em funcionamento”, disse.
Ele destacou que o setor mantém sua previsão de comprar neste ano 380 mil veículos, um crescimento de 5,56% na comparação com os 360 mil veículos adquiridos em 2020. No fim do ano passado, a Abla havia dito que o setor tinha demanda para comprar 800 mil veículos neste ano, mas o processo de renovação de frota foi frustrado pela falta de veículos no mercado.
Até setembro, as locadoras do país compraram 310 mil veículos. Em 2019, antes dos efeitos da pandemia, as compras foram de 620 mil. Historicamente, o setor compra 20% da produção nacional de carros todo ano.
Até setembro, as locadoras do país acumularam frota total de 1,070 milhão de veículos, crescimento de 6,26% na comparação com o fechamento de 2020.
Para 2022, Miguel Junior disse que o setor mantém a necessidade de compra de 800 mil veículos. Mas ele ponderou que é impossível se fazer uma previsão agora de quanto a cadeia irá conseguir comprar.
“Eu dependo das projeções da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) para chegar em um número de compra. E a Anfavea não vai ter essa produção tão cedo”, disse.
Valor Online
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