O dólar opera em alta nesta sexta-feira (28), à medida que a disseminação do coronavírus para fora da China levantava temores de uma recessão econômica global. No dia anterior, a moeda subiu pela sétima sessão consecutiva, renovando o patamar recorde de fechamento nominal (sem considerar a inflação). Já a Bovespa operava em queda de mais de 2%.
Às 15h19, a moeda norte-americana subia 0,32%, vendida a R$ 4,4907. Na máxima, o dólar chegou a R$ 4,5141.
"O crescimento global começa a ser afetado pelo vírus, enquanto ainda se busca uma prevenção contra a doença", disse Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora. "O crescimento do Brasil pode não ser alcançado devido ao impacto do surto, outros países emergentes podem ser prejudicados...Isso assusta todo mundo, e o investidor quer um porto seguro; alguns compram ouro e outros compram dólar."
Caso confirme a oitava sessão consecutiva de alta, o dólar registrará a mais longa sequência de ganhos desde os nove pregões de valorização entre 7 e 19 de dezembro de 2005.
Na véspera, a moeda dos EUA encerrou o dia negociada a R$ 4,4764, com alta de 0,80%. Na semana, a moeda acumula alta de 1,91%. No mês, já subiu 4,47%. No ano, o avanço é de 11,64%.
Atuação do Banco Central
O Banco Central volta a atuar nos mercados nesta sexta-feira, realizando oferta líquida de até 20 mil contratos de swap cambial tradicional, em que vendeu todos contratos, no equivalente a US$ 1 bilhão. Segundo a XP Investimentos, "a medida visa, em alguma medida, contrabalancear o efeito de aversão ao risco sobre o câmbio".
Além disso, a autarquia fez a rolagem integral de todos os US$ 3,0 bilhões ofertados em linhas de dólares com compromisso de recompra. O BC ofertará ainda nesta sessão até 13 mil contratos de swap cambial para rolagem do vencimento abril.
Na quinta, o BC vendeu US$ 1 bilhão em contratos de swap cambial tradicional para conter a volatilidade. Na quarta, a autoridade monetária havia colocado US$ 500 milhões nesses ativos, em oferta líquida.
Tensão global
O avanço da epidemia do novo coronavírus pelo mundo tem provocado abalos nos mercados globais e tem elevado as preocupações de investidores e governos sobre o impacto da propagação do vírus nas cadeias globais de suprimentos, nos lucros das empresas e na desaceleração do crescimento da economia global.
Embora o maior número de casos confirmados e os principais impactos ainda estejam concentrados na China, o coronavírus já se espalhou por mais de 40 países de todos os continentes, provocando o fechamento de fábricas, interrupção de produção, fechamento do comércio e a paralisação de atividades também em países como Coréia do Sul, Japão e Itália.
Por conta de fluxos elevados de capitais para mercados de menor risco, o dólar segue se valorizando frente a outras moedas, em especial moedas de países emergentes como o real.
No exterior, as principais bolsas europeias recuavam nesta sexta, caminhando para a pior semana desde a crise de 2008. Na China, os índices acionários encerraram o pior mês desde maio do ano passado, com os temores sobre o surto de coronavírus se tornar uma pandemia.
Impactos no PIB do Brasil
Além das preocupações sobre o impacto do coronavírus, o dólar mais valorizado nas últimas semanas tem refletido os juros em mínimas históricas no Brasil e as perspectivas sobre o ritmo de crescimento da economia brasileira e andamento das reformas.
O secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, afirmou nesta sexta-feira à GloboNews (veja no vídeo acima) que o coronavírus deverá levar à revisão na estimativa de Produto Interno Brasileiro (PIB).
A secretaria comandada por Sachsida é responsável por fixar as projeções oficiais do governo para a economia e chegou a anunciar em janeiro deste ano um aumento na previsão de crescimento, alterando a expectativa de 2,32% para 2,40%. Segundo o secretário, a nova revisão do número deve ser anunciada até o fim da semana que vem.
Na quinta, o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, reconheceu que o avanço do coronavírus pode ter impacto no crescimento mundial e "afetar todo mundo, inclusive o Brasil". Ele acrescentou que a Secretaria de Política Econômica (SPE) deverá rodar em breve uma nova projeção para o crescimento da economia em 2020.
"Está assustando todo mundo pois pode ter impacto muito forte no desaquecimento da economia mundial, isso impacta a exportação de todo mundo. Tem desorganização de cadeias produtivas, organizadas em países asiáticos. É um fenômeno que está todo mundo se debruçando agora. O risco é no preço de commodities e em um crescimento menor do mundo. A gente tem de estar preparado e lidar com a situação", afirmou.
O Bank of America Merrill Lynch reduziu na quinta-feira sua perspectiva de crescimento econômico do Brasil em 2020 para 1,9%, citando impactos do coronavírus nas exportações e contínuos indicadores de atividade econômica sem sinal uniforme.
O mercado brasileiro reduziu para 2,20% a previsão a alta do PIB em 2020, segundo a pesquisa Focus do Banco Central, divulgada nesta quarta, mas diversos bancos e consultorias já estimam um crescimento abaixo de 2%.
Já a projeção do mercado para a taxa de câmbio no fim de 2020 subiu de R$ 4,10 para R$ 4,15 por dólar. Para o fechamento de 2021, subiu de R$ 4,11 para R$ 4,15 por dólar.
A redução sucessiva da Selic desde julho de 2019 também contribui para uma maior desvalorização do real ante o dólar. Isso porque diminuiu ainda mais o diferencial de juros entre Brasil e outros pares emergentes, o que pode tornar o investimento no país menos atrativo para estrangeiros e gerar um fluxo de saída de dólar. E cresce no mercado as apostas sobre a chance de um possível novo corte na Selic, atualmente em 4,25% ao ano.
G1
Portal Santo André em Foco
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