O dólar opera em alta nesta quarta-feira (26), atingindo pela primeira vez o patamar de R$ 4,44, na reabertura do mercado de câmbio após o carnaval, em meio ao avanço da epidemia de coronavírus pelo mundo e com a confirmação do primeiro caso no Brasil.
Por todo o globo, o crescente número de casos da doença deixava os mercados nervosos, principalmente com aumento de casos fora da China, onde surgiu o vírus. Até esta sessão, o número de mortos na Itália havia ultrapassado 19 e novos casos na Coreia do Sul foram acima de 1.260.
Às 16h09, a moeda dos EUA era negociada a R$ 4,4416, com alta de 1,13%. Na máxima até o momento chegou a R$ 4,4475, maior cotação nominal intradia já registrada no país.
"O Brasil é só mais um (país com caso confirmado)", disse Alvaro Bandeira, economista-chefe do banco digital Modalmais. "Nesse final de semana do Carnaval teve um alastramento grande do vírus. Era razoavelmente esperado que essa alta do dólar pudesse acontecer", completou, citando baixa liquidez devido à Quarta-feira de Cinzas.
O movimento de força da moeda norte-americana seguia a tendência internacional, com o dólar ganhando ante 21 de seus 33 principais pares, destaca a Reuters. Moedas arriscadas, como dólar australiano, peso argentino e peso mexicano registravam as quedas mais acentuadas, com o real liderando as perdas.
Na sexta-feira, o dólar encerrou o dia cotado a R$ 4,3926 na venda, novo recorde de fechamento nominal (sem considerar a inflação). Na abertura, chegou a R$ 4,4061 – até então a maior máxima nominal intradia já registrada. Na semana, acumulou alta de 2,16%. No mês, o avanço é de 2,51%. Em 2020, já subiu 9,55%.
Atuação do Banco Central
A alta acontece mesmo após o Banco Central anunciar um leilão extraordinário de dólares. O BC ofertará nesta sessão até 10 mil contratos de swap tradicional com vencimento em agosto, outubro e dezembro de 2020, conforme anunciado esta manhã, antes da abertura das negociações.
A autarquia também ofertará na quinta-feira, entre 9h30 e 9h40, até 20 mil contratos de swap tradicional com vencimento em agosto, outubro e dezembro deste ano.
Desta forma, o montante ofertado pela autoridade monetária de quarta até quinta equivale a 30 mil contratos, ou US$ 1,5 bilhão.
Tensão global
No exterior, os mercados globais foram fortemente abalados na segunda (24) e terça (25) em razão do avanço do coronavírus fora da China, com quedas entre 6% e 7% nas principais bolsas.
Por conta de fluxos elevados de capitais para mercados de menor risco, o dólar segue se valorizando frente a outras moedas, em especial moedas de países emergentes como o real.
As preocupações se elevaram nos últimos dias uma onda de novos casos foi do coronavírus ser reportada na Coréia do Sul, Irã e Itália, gerando paralisação de algumas atividades nos países.
Investidores temem os impactos do avanço do coronavírus no crescimento da economia global e diversas empresas alertaram que o surto afetará suas finanças, incluindo United Airlines, Mastercard, Danone e Diageo.
Os preços do petróleo caíam nesta quarta-feira abaixo de US$ 50 nos EUA, menor valor desde janeiro de 2019. Já o petróleo Brent era negociado abaixo de US$ 54.
Os rendimentos a 10 e 30 anos dos títulos do Tesouro dos EUA caíram para níveis mínimos históricos enquanto outro porto-seguro, os títulos alemães também viram os títulos de 10 anos recuarem para mínimos de quatro meses, enquanto investidores buscam proteção contra o impacto do vírus no crescimento econômico.
Entre os analistas, crescem as apostas de mais medidas de estímulos e de cortes nas taxas de juros na Europa e no Estados Unidos para sustentar a economia.
"Historicamente, investidores compram títulos do governo americano em períodos de aumento de elevação de risco, fazendo subir seus preços e diminuir os juros embutidos nesses títulos. A curva de juros americana também já precifica novos cortes de juros pelo FED nas próximas reuniões", destacou a equipe da XP Investimentos.
O que explica as altas recentes
Além das preocupações sobre o impacto do coronavírus na economia global, o dólar mais valorizado nas últimas semanas tem refletido os juros em mínimas históricas no Brasil e as perspectivas sobre o ritmo de crescimento da economia brasileira e andamento das reformas.
Diversas instituições financeiras têm revisado para baixo suas perspectivas para o crescimento econômico em 2020 na esteira da disseminação do novo coronavírus e da percepção de uma lentidão um pouco maior que o esperado no ritmo de crescimento neste início de ano.
O mercado brasileiro reduziu para 2,20% a previsão a alta do PIB em 2020, segundo a pesquisa Focus do Banco Central, divulgada nesta quarta, mas diversos bancos e consultorias já estimam um crescimento de, no máximo, 2%.
Já a projeção do mercado para a taxa de câmbio no fim de 2020 subiu de R$ 4,10 para R$ 4,15 por dólar. Para o fechamento de 2021, subiu de R$ 4,11 para R$ 4,15 por dólar.
A redução sucessiva da Selic desde julho de 2019 também contribui para uma maior desvalorização do real ante o dólar. Isso porque diminuiu ainda mais o diferencial de juros entre Brasil e outros pares emergentes, o que pode tornar o investimento no país menos atrativo para estrangeiros e gerar um fluxo de saída de dólar. E cresce no mercado as apostas da chance de um possível novo corte na Selic, atualmente em 4,25% ao ano.
G1
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