Novembro 23, 2024

Entre ministros de Bolsonaro, apenas perfis de Moro e Damares se destacam no Twitter

Em abril, quando Sergio Moro criou seu perfil no Twitter e virou meme ao compartilhar sua foto com um calendário para provar que afinal estava mesmo na rede social, o ministro da Justiça deixou bem claro os motivos que o levaram a aderir ao microblog: “é um instrumento poderoso de comunicação”, explicou. Passado pouco mais de um mês, os resultados são visíveis: rapidamente, Moro se tornou o ministro com maior número de seguidores (são mais de 790 mil) e engajamento na plataforma. Em um único mês, seu perfil gerou 3,6 milhões de curtidas e retuítes, quase metade das interações do presidente Jair Bolsonaro , habitué do Twitter, no mesmo período, segundo levantamento do GLOBO.

Principal palanque do presidente, o Twitter se tornou central no governo Bolsonaro. É por meio dele que o ex-deputado federal mobiliza sua militância virtual e fala diretamente com seu eleitorado, ao mesmo tempo, é de lá que partiram as principais crises que atingiram o Palácio do Planalto desde o início do governo. Apesar da centralidade da plataforma na comunicação do presidente, se comparado aos demais titulares da Esplanada dos Ministérios, Moro é exceção, ao lado da ministra da Mulher, Família e direitos Humanos, Damares Alves , que somou quase 1 milhão de likes e compartilhamentos em abril. Os demais 11 ministros que hoje também dispõem de contas oficiais no Twitter estão longe de ter o mesmo impacto e sequer utilizam com frequência a rede social para se comunicar.

OS MINISTROS DE BOLSONARO NO TWITTER
Compare o desempenho dos ministros "tuiteiros" de Bolsonaro com os números do próprio presidente na rede social

A maioria — sete deles mais precisamente — posta pouco, menos de uma vez ao dia em média, e gera menos de 300 mil interações mensais. Outros nove ministros, inclusive o da Economia, Paulo Guedes, e a cúpula militar, seguem fora do Twitter, cinco meses depois de assumirem seus cargos.

— É natural que um presidente eleito pelo voto popular de gente que foi afetada por sua comunicação digital mantenha estratégias de manutenção da aproximação com essas pessoas. Autoridades não eleitas, não necessariamente. Mas, obviamente, há exceções. Agendas, pautas e medidas ministeriais que guardam forte correlação com as pautas e promessas de campanha de um presidente forjado, por exemplo, no Twitter, podem ser trabalhadas nessas redes digitais tal como o faz o presidente. O exemplo mais notório é o de Sergio Moro que, para tentar angariar algum apoio popular para pressionar o Congresso, enxerga no Twitter a possibilidade de trabalhar uma opinião pública que seja favorável a seu projeto anticrime — analisa Camilo Aggio, da Faculdade de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Provando que esse twitter é meu mesmo (o que é um pouco inusitado). pic.twitter.com/2HXmYc7vvT

— Sergio Moro (@SF_Moro) 4 de abril de 2019

Resolvi aderir ao twitter pois é um instrumento poderoso de comunicação. A ideia é divulgar os projetos e as propostas do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

— Sergio Moro (@SF_Moro) 4 de abril de 2019

O cientista político Rafael Sampaio, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), diz que qualquer personalidade com uma imagem pública de longa data como Moro que entrasse no Twitter, provavelmente, teria muitos seguidores e interações rápidas. Para Sampaio, chama mais atenção o desempenho de Damares Alves. A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos é quem mais faz publicações na Esplanada, uma média de quatro por dia, seguida por Moro, com três postagens diárias, e o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcos Pontes, que tem média de dois posts.

— Damares acho mais interessante, porque ela não era tão famosa antes do governo. Não tinha uma construção nas redes. Ela é a representação dessa onda mais conversadora que estamos vivendo, representa esses valores que ajudaram em alguma medida a eleger o Bolsonaro: ser contra “ideologia de gênero”, preservação dos valores da família. Damares se posicionou muito rápido e num momento em que ainda havia clima de eleições — conclui Rafael Sampaio, da UFPR.

Ele é o meu herói! pic.twitter.com/6fcLiBRsNh

— Damares Alves (@DamaresAlves) 21 de abril de 2019

Esclareço que não pedi para deixar o governo. Fico até quando o presidente @jairbolsonaro quiser e Deus me der saúde. E olha, tenho muita. Também estou com muita disposição para ajudar a mudar o país.

— Damares Alves (@DamaresAlves) 3 de maio de 2019
Em seu perfil, Damares se divide entre conteúdos de cunho religioso e a defesa de “valores da família”. Em sua publicação com maior número de retuítes e curtidas desde o início do governo, a ministra compartilhou um vídeo em que super heróis dos quadrinhos reverenciam uma cruz. Na sequência aparece a frase “Jesus, meu herói”.

Uma rede de convertidos
Mas nem tudo são flores para o governo Bolsonaro no Twitter. Recentes crises no Planalto também começaram por lá. A fritura do ex-ministro da Secretaria Geral da Presidência Gustavo Bebianno se intensificou após o filho do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ), dizer no Twitter que Bebianno mentiu ao falar que havia conversado três vezes com o presidente. A declaração do ministro foi feita ao GLOBO para negar que era alvo de uma crise após ser acusado, em reportagem da "Folha de S.Paulo" de participar de um esquema de candidatas laranjas, quando era presidente do PSL, entre janeiro e outubro de 2018. Recentemente, o vice-presidente Hamilton Mourão e o ministro da Secretaria de Governo, general Santos Cruz, também foram alvos de ataques de aliados de Bolsonaro na rede social. Esses casos podem ajudar a explicar a opção de boa parte dos ministros de fugir do microblog.

— Se você não é uma figura com tanta visibilidade, se é um ministro mais técnico por exemplo, (as trocas de farpas) podem acabar sendo um desconforto — diz Rafael Sampaio.

Por outro lado, o pesquisador destaca que algumas características tornam o Twitter atraente e ajudam a explicar sua importância estratégica no governo Bolsonaro. Quando se prioriza a rede social, há a vantagem de se falar diretamente com a população. Mas, em geral, só se fala com “convertidos”:

— No Twitter, você pode escolher os melhores comentários e responder só àqueles. A interação é controlada. Há uma expressão interessante, “pregar para os convertidos”. Você tem um público mais disposto a receber a mensagem, que não quer ouvir o outro lado.

O Globo
Portal Santo André em Foco

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