O próximo ano será "desafiador" para a economia, mas há dúvidas sobre como o novo governo comandado pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), reagirá ao cenário, conforme avaliação de economistas da FGV (Fundação Getulio Vargas).
A contribuição externa para a atividade econômica no Brasil será menor, com vários países preocupados em combater a inflação alta que se espalhou pelo mundo por causa dos desequilíbrios causados pela Covid-19 e pela guerra na Ucrânia. E impulsos temporários ou atípicos, alguns associados à pandemia, não se repetirão.
O quadro foi desenhado nesta quinta-feira (8) por pesquisadores do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia ). Os especialistas mostraram preocupações sobre como a política econômica do novo governo enfrentará os desafios. "Acho que 2023 é desafiador porque, do ponto de vista cíclico, precisamos desacelerar", disse Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre.
Após a divulgação dos dados do PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre, o Ibre passou a projetar crescimento econômico de 3% neste ano. Só que, para 2023, a expectativa é de desaceleração.
Ciclos
Segundo Silvia, a desaceleração cíclica tem a ver com a combinação de aspectos específicos da crise causada pela pandemia, com políticas de estímulo fiscal ao consumo e com um cenário externo mais desfavorável em 2023. O problema é que parece haver uma "grande dificuldade de entendimento" sobre esse diagnóstico no gabinete de transição, conforme os sinais emitidos até aqui, disse ela.
Nos discursos públicos dos integrantes da equipe de transição e no formato da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que permitirá abrir espaço no Orçamento de 2023 para gastos inicialmente tidos como essenciais, os pesquisadores do FGV Ibre identificaram uma postura favorável ao aumento de despesas públicas de forma indiscriminada.
Carga tributária
Em suas apresentações no seminário, tanto Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre, quanto José Júlio Senna, chefe do Centro de Política Monetária do FGV Ibre, reconheceram que o Orçamento de 2023 feito pelo governo Jair Bolsonaro (PL) não se sustenta.
Por isso, requer ajustes, inclusive com mudanças nas regras fiscais, como o teto de gastos. Senna chegou a elogiar as perspectivas de mudanças nas políticas públicas em áreas diferentes da política econômica, como relações exteriores, meio ambiente e assistência social.
O pesquisador Armando Castelar, também participante do seminário, afirmou ver nos sinais iniciais da equipe de transição de governo um viés favorável ao aumento da carga tributária. Especialmente se o ex-prefeito Fernando Haddad for confirmado como ministro da Fazenda.
"Haddad tem feito discurso de aumentar imposto. Ele não fala isso, fala em reforma tributária, mas a prioridade para isso parece ser pelo aumento da carga", afirmou Castelar. De acordo com Silvia, o maior problema de uma política econômica sustentada no aumento indiscriminado de despesas do governo está relacionado à inflação elevada.
Por isso, disseram os pesquisadores do FGV Ibre, seria importante que, a partir de 2023, a política fiscal atuasse de forma combinada com a política monetária. Ou seja, que a dinâmica de despesas do governo não estimulasse a demanda excessivamente.
Agência Estado
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