Novembro 28, 2024

Troca-troca partidário cresce 31% nas eleições de 2022; 2 em cada 3 candidatos que disputaram em 2018 mudaram de legenda

Mais de 3 mil candidatos que concorreram nas eleições de 2018 mudaram de partido para a disputa deste ano. Esse total supera em 31% a quantidade daqueles que também trocaram de legenda entre 2014 e 2018. Os dados fazem parte de um levantamento feito pelo g1, com base nos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

No comparativo, não foram consideradas trocas de nomes das legendas e as fusões entre os partidos, apenas candidatos que migraram para outros partidos. Um candidato que era do PSL e agora está no União Brasil, fusão do PSL com o DEM, por exemplo, não será considerado como uma mudança.

Especialistas apontam os seguintes motivos para o aumento das trocas:

  • Fim das coligações para cargos proporcionais;
  • aumento da cláusula de desempenho;
  • acesso ao Fundo Eleitoral.

A cláusula de desempenho obriga que os partidos tenham votos suficientes para continuar tendo acesso a recursos públicos de financiamento. O fim das coligações para cargos proporcionais, aprovada em 2017, obrigou que as legendas busquem votos individualmente ou participem de federações partidárias, modelo aprovado em 2021.

PL foi o que mais ganhou; União, o que mais perdeu
Entre as eleições de 2014 e 2018, cerca de 4,8 mil participaram das duas disputas. Desse total, 51% (2,4 mil) migraram de partidos entre as duas eleições. Este ano, a proporção chegou a 59% dos mais de 5,3 mil candidatos que também participaram da última eleição nacional. Situações de candidatos que concorrem pelo o União Brasil, que não existia em 2018, não foram consideradas como troca de partido.

O saldo das trocas mostra o efeito da mudança de partido do presidente Jair Bolsonaro. Ele era filiado ao PSL em 2018 e agora está no PL.

O PL foi o partido que mais ganhou candidatos desde a última eleição: 316. Considerando os 94 que deixaram a legenda, teve um saldo positivo de 222 candidaturas.

O partido que mais perdeu candidatos foi o União, resultado da fusão do PSL com o DEM. Foram 434 saídas e 233 entradas desde 2018. Com isso, o saldo foi negativo em 201 candidaturas.

Fim das coligações
Para Lara Mesquita, cientista política e pesquisadora da FGV Escola de Economia de São Paulo, a proporção de candidatos que participaram das eleições de 2018 e agora mudaram de partido (60%) não se descolou tanto quando comparado a 2014. Apesar disso, o aumento pode ser explicado por alguns fatores relacionados à estratégia dos candidatos. Os candidatos buscam partidos que podem ampliar as suas chances eleitorais, mas agora em um contexto sem coligações partidárias.

"O que pode explicar essas mudanças é o aumento da rigidez da cláusula de desempenho que limita o acesso aos recursos públicos e o fim das coligações", diz a pesquisadora.

"Os candidatos estão buscando partidos que tenham recursos para bancar sua campanha, quanto listas que nos estados permitam que eles sejam eleitos. Provavelmente, um dos incentivadores para essa mudança, e que já acontecia em outras eleições, mas que talvez seja mais acentuado este ano, é que o candidato procura saber se o partido vai superar o coeficiente eleitoral no estado."

Segundo a cientista política da FGV, os candidatos mudam de partidos também segundo o contexto da disputa local e nacional:

"O candidato pensa assim: dentro do meu campo de conforto dos partidos, o meu partido vai ter candidato a governador? Ele estará bem colocado? Estará alinhado com uma candidatura presidencial forte? Ou seja, os candidatos também podem mudar de partido em busca disso: de uma melhor condição para a disputa como um todo, observando também o contexto local e nacional."

Na avaliação do cientista político e professor da Universidade Federal do Parará (UFPR) Bruno Bolognesi, o aumento da troca de partidos entre os candidatos tem relação não apenas com o fim das coligações, mas também com o acesso do Fundo Partidário.

"Acho que o principal fator nesse aumento foi o fim das coligações. Uma pessoa que antes queria se candidatar por um partido pequeno e ia disputar a lista com um partido grande coligado isso não fazia muita diferença. Agora não tem mais isso. Abriu mais uma porta de oportunidade para os candidatos concorrerem a uma cadeira. O segundo fator é o Fundo Eleitoral. Houve muita migração em prefeituras em cidades pequenas de candidatos buscando acompanhar partido que tem Fundo Eleitoral grande", diz Bolognesi.

Um outro fator também a ser considerado, segundo o professor, foram as migrações em nível federal, que estimularam a troca de partidos na base. Para Bolognesi, há um baixo custo político para os candidatos mudarem de partido no Brasil.

"Como você teve uma migração grande no nível superior, como a fusão do DEM com PSL, a migração de Bolsonaro para o PL, isso tudo faz os candidatos acompanharem esse movimento. Ou o candidato está em partido com Fundo Eleitoral grande ou ele está em partido com um candidato a governador forte. É interessante ressaltar que não tem muito custo para o candidato mudar de partido. Fora os candidatos muito identificados com os partidos, mudar de legenda não faz muita diferença porque o partido, em muitos casos, não é um fator que o eleitor leve em conta."

g1
Portal Santo André em Foco

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