Novembro 28, 2024

Senadores pedem a Araújo para deixar Itamaraty; ministro diz ter 'consciência tranquila'

Em sessão de debates nesta quarta-feira (24), senadores pediram ao ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, para deixar o Itamaraty.

Araújo foi ao Senado para prestar informações sobre a atuação do ministério nos esforços para obtenção de vacinas contra a Covid.

Durante a sessão, parlamentares criticaram a conduta da pasta em relação ao enfrentamento da pandemia e à aquisição de vacinas.

Ernesto Araújo respondeu aos congressistas que dorme "com a consciência tranquila" e que "é preciso reconhecer as qualidades" do governo.

Pelo menos sete senadores se dirigiram ao chanceler e pediram a ele para deixar o ministério.

"Nunca vi uma apresentação tão confusa. Não soube elaborar frase com sujeito verbo e predicado. O senhor realmente cursou o Rio Branco?", indagou ao ministro Fabiano Contarato (Rede-ES), autor do pedido de realização de sessão de debates com Araújo.

"Peça para mudar. Vá para um ministério ideológico. Não fique no Ministério das Relações Exteriores. O senhor é unanimidade no Senado de rejeição e incompetência", afirmou Simone Tebet (MDB-MS).

"O senhor não tem condições de ser ministro. Renuncie", disse Randolfe Rodrigues (AP), líder da Rede.

"Pede pra sair ministro. Chega. O senhor está fazendo o Brasil perder tempo", declarou Mara Gabrilli (PSDB-SP).

"Se fosse o senhor, pediria demissão hoje", propôs Jorge Kajuru (Cidadania-GO).

"Peço um favor: renuncie a esse ministério. Em nome do país, renuncie. É esse o apelo que faço. Ministro, pelos brasileiros, renuncie", disse a Araújo o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).

“Somos considerados uma ameaça global. Este governo tem nos envergonhado lá fora com todo esse descontrole da pandemia. Vossa excelência chegou ao fim. É um elemento que, em meio a uma pandemia, atrapalha o processo multilateral de enfrentamento da crise. Pega o beco e assine sua carta de demissão pelo seu bem e de todo o Brasil”, disse o líder da minoria, Jean Paul Prates (PT-RN).

O chanceler reiterou boa relação com China, Estados Unidos, Reino Unido. Segundo ele, "nenhuma questão política está impedindo importação de vacinas e insumos", e o Brasil, segundo ele, não sofre "discriminação" ou "preconceito" internacional.

"Tenho boa relação com chanceleres do mundo todo. Sou muito bem recebido em toda parte e isso tem se refletido em resultados e vai continuar se refletindo nessa questão da vacina", explicou.

O ministro esclareceu que não é uma opção para o Brasil a quebra de patente em relação a insumos e vacinas. A patente assegura exclusividade de exploração e venda de um produto ao seu criador, que pode ser um país.

Segundo Araújo, hoje, há a permissão da quebra de patentes para produção local de vacinas, proibida a exportação. Todavia, ele avaliou que essa não será uma alternativa para o Brasil, pois o país não tem capacidade de produção.

"O Brasil já poderia quebrar patentes. O problema é que não temos capacidade de produzir. Se quebrássemos, por exemplo, patente da Pfizer não teríamos condição de produzi-la no Brasil, exige outro tipo de tecnologia", ressaltou .

Sobre questões ideológicas, Araújo disse que se considera um "conservador". Ele voltou a usar o termo "comunavírus", em referência ao filósofo esloveno Slavoj Zizek. De acordo com o chanceler, a pandemia pode gerar uma desorganização social, o que, segundo ele, resultará numa sociedade comunista.

Câmara
Pela manhã, Araújo, participou de uma audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara.

Ele negou que autoridades do governo tenham desmerecido a gravidade da pandemia do novo coronavírus e disse que a relação do Brasil com a China é “produtiva”.

O presidente Jair Bolsonaro já chamou a Covid 19 de “gripezinha”, desencorajou o uso de máscaras durante a pandemia e colocou em dúvida a eficácia da vacina Coronavac, produzida pela laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantã.

Em abril do ano passado, Araújo afirmou que o coronavírus era um "plano comunista" e atacou a Organização Mundial da Saúde.

Para o ministro, no entanto, nada que tenha sido dito por autoridades do governo desmerece a gravidade da pandemia.

“Nada do que eu tenha dito aqui, que ninguém do governo brasileiro tenha dito desmerece a gravidade da pandemia neste momento no Brasil, o número de óbitos, dos quais nos compadecemos”, afirmou.

Durante o encontro dos chefes de poderes no Palácio da Alvorada na manhã desta quarta,, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, cobrou ações de Araújo. Ele disse que o Itamaraty "precisa funcionar, deixar a ideologia de lado e negociar com todos os países" que possam aumentar o fornecimento de vacinas ao Brasil e também medicamentos para tratamento da Covid-19.

O país soma mais de 300 mil óbitos. Os casos confirmados de Covid-19 superam 12 milhões.

Ernesto Araújo reconheceu atritos com o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, mas negou que isso tenha prejudicado as relações com a China. Para o chanceler, as afirmações feitas por ele "visaram melhorar e manter a excelente relação com a China".

"Obviamente houve dificuldades com a embaixada da China, com o embaixador da China, algo completamente diferente do que ter problemas com o governo chinês. Nunca fiz uma ataque à China”, disse.

O chanceler afirmou que Wanming reagiu de maneira "desproporcional" e fora das práticas diplomáticas a comentários do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, nas redes sociais.

Araújo que não se posicionou em defesa de Eduardo Bolsonaro, mas da "dignidade e da soberania" do Brasil.

O deputado afirmou em março de 2020 em uma rede social que a "culpa" pela crise do coronavírus era da China.

Em resposta, também em uma rede social, o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, repudiou a publicação do deputado e exigiu um pedido de desculpas.

Em novembro, Eduardo voltou a criticar a China ao postar em uma rede social que o Brasil apoia aliança global para um 5G 'sem espionagem da China'.

A embaixada no Brasil respondeu em nota que as mensagens divulgadas são “infundadas” e “solapam” a relação entre os dois países.

Apesar disso, Araújo chamou de “tese equivocada” reportagens que apontam que o Brasil tem uma má relação com os asiáticos e disse que animosidade com o embaixador chinês foi "superada".

“As coisas no mundo não existem só no absoluto, mas também no relativo. Tanto a nossa relação diretamente com a China, abstraindo tudo mais, é boa, é produtiva, o comércio está aumentando e os insumos estão chegando. No contexto global, a relação hoje do Brasil com a China acho que é melhor do que a de qualquer outro grande ator internacional com a China”, disse o ministro.

G1
Portal Santo André em Foco

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