Em 2019, Heverton Felipe, conhecido artisticamente como Felupe, foi preso por roubo e associação criminosa. Ele passou dois anos preso até a Justiça da Paraíba o considerar inocente, no dia 20 de abril. Agora, solto, ele tenta retomar a carreira.
Heverton foi acusado de assaltar uma granja no Conde, na Grande João Pessoa, após uma das vítimas reconhecê-lo através de uma fotografia, sete meses depois do crime. O músico foi preso sem saber pelo o que estava sendo acusado:
“Me prenderam e não explicaram, ficou em segredo de Justiça”, contou.
Ele foi absolvido das acusações de roubo e associação criminosa após a Justiça considerar o reconhecimento fotográfico subjetivo e testemunhas confirmarem que Heverton estava em uma festa na noite do crime. O Ministério Público recorreu da decisão.
O crime
Segundo o Ministério Público da Paraíba (MPPB), em 2019 quatro homens teriam invadido uma granja no Conde, todos encapuzados e armados, e após renderem o caseiro e toda sua família, roubaram celulares, dinheiro e utensílios da casa.
Heverton se tornou um desses quatro homens após uma das vítimas reconhecê-lo, depois de sete meses do crime, em uma fotografia apresentada na delegacia. Segundo o processo, esta vítima alegou que conhecia Heverton da época da escola e o identificou por uma tatuagem.
Já Heverton declarou que a tatuagem foi feita em 2018 e ele terminou os estudos em 2014. Ele também não tinha antecedentes criminais.
A prisão
Heverton foi preso em uma sexta-feira, quando se preparava para viajar para Pernambuco, onde faria shows no fim de semana.
Os dois anos de prisão foram cumpridos no presídio do Roger, em João Pessoa. Recebia visitas da esposa, Izis - “que cumpriu a pena com ele, só que fora”, segundo o músico.
Nos primeiros meses de prisão, a advogada que o defendia desistiu do caso. Sem defesa, Heverton contou sobre sua história para um advogado que estava visitando um cliente no presídio. Este advogado repassou a história de Heverton para Roberto Nascimento e Alex Laurentino, que assumiram o caso.
A partir disso, os advogados conseguiram descobrir detalhes do caso, como a data que ocorreu. “Tudo começou a se encaixar”, de acordo com Heverton, pois assim ele conseguiu lembrar que estava na festa na data do crime e a sua família foi atrás das testemunhas.
Foram 16 meses até a Justiça decidir pela inocência de Heverton, após a chegada dos novos advogados. Enquanto isso, a pandemia do coronavírus começou, o músico deixou de receber visitas da esposa e as coisas ficaram ainda mais complicadas:
“Se você for parar pra deixar sua mente vazia, você vai pirar. Você tem que se manter calmo e sóbrio, para não deixar desandar. O que eu tentava era distrair minha mente, conversava comigo mesmo, sonhava, conversava com os outros, ouvia a história dos outros, contava a minha história, pra passar o tempo”, relata Heverton.
Durante o tempo preso, Heverton conta que a prisão não era violenta e que “todos os dias eram iguais”.
“É diferente do que muita gente fala. [Os detentos] tão no sofrimento só, não tem distinção não, todo mundo sofre. A comida é a mesma, a água é a mesma, o castigo é o mesmo, a rotina é a mesma, todo dia, a mesma coisa”, contou.
Na cadeia, Heverton também viu histórias semelhantes à sua.
“Tem outras pessoas pagando pelo crime que não cometeu, por conta de foto, por conta de pessoas que acusam sem ser, pela cor, são vários”, diz o músico.
Para Heverton, de origem humilde do Conde, o racismo e suas condições sociais contribuíram para sua prisão.
“Eu não ia ter voz nunca se não chegasse uma pessoa que acreditasse”.
O Ministério Público recorreu da decisão, mas a defesa de Heverton ainda não foi intimada para se manifestar.
Liberdade
No dia 20 de abril, Heverton foi considerado inocente. No dia 21, ele deixou o presídio.
"Eu já tinha desistido, quando fiquei sabendo eu nem acreditei. Quando chamaram o meu nome eu tava dormindo. Eu esperei muito por isso, eu via chegando pro povo e eu esperando a minha vez. O guarda chamou meu nome, tava dormindo e os meninos me chamaram", relata.
Do lado de fora, Heverton pôde reencontrar a família, principalmente o filho, Gabriel. Quando foi preso, o filho tinha 3 anos e não sabia o que estava acontecendo.
O menino perguntava pelo pai frequentemente e, quando era perguntado, falava que o pai estava viajando pra tocar. O menino tentou escrever para o pai, mas não conseguia porque ainda estava aprendendo.
“Pra mim, foi a melhor coisa do mundo [reencontrar o filho], o que eu tava mais esperando. Ele não sai de perto de mim, não solta pra nada”.
Além de aproveitar o tempo com a família, Heverton está retomando sua carreira e pretende lançar músicas novas em suas redes sociais.
“Não tem como recuperar o tempo perdido, agora é viver”.
O MPPB
O Ministério Público da Paraíba recorreu da decisão. De acordo com o documento de apelação, a Justiça "desconsiderou completamente a palavra da vítima e a identificação dos denunciados feita na ocasião da audiência, conforme gravações que compõem os autos, afirmando que a realizada extrajudicialmente não poderia alicerçar uma condenação, mostrando-se frágil o acervo probatório".
Pouco mais de dois meses após Heverton ter sido solto, a defesa dele afirmou que ainda falta ser intimada para apresentar contrarrazões ao recurso do MP.
Sobre o reconhecimento feito na Delegacia do Conde, a Polícia Civil da Paraíba informou que não vai se pronunciar sobre o caso em virtude do processo se encontrar em tramitação no Poder Judiciário e sob responsabilidade do Ministério Público da Paraíba, que, por sua, já recorreu da sentença judicial.
G1 PB
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