Dimitri Hérard, chefe da segurança de Jovenel Moise, o presidente assassinado do Haiti, foi detido nesta quinta-feira (15) em meio às investigações sobre os responsáveis pelo crime.
A informação foi revelada pelo jornal americano "The New York Times", que diz que a informação foi confirmada por pela porta-voz da Polícia Nacional do Haiti, Marie Michelle Verrier.
Até o momento, 21 pessoas foram detidas (18 colombianos e três haitianos, dos quais dois também têm nacionalidade americana) e três colombianos foram mortos pela polícia. Há cinco suspeitos foragidos, entre eles um ex-senador haitiano (veja mais abaixo).
Nesta quinta, o Pentágono revelou que "um pequeno número" dos colombianos presos recebeu treinamento militar dos Estados Unidos "enquanto serviam como membros ativos das Forças Militares colombianas".
O Ministério Público de Porto Príncipe havia convocado os responsáveis pela segurança de Moise para depor. "Se há responsáveis pela segurança do presidente, onde estavam? O que foi feito para evitar este assassinato do presidente?", indagou Me Bed-Ford Claude após o assassinato.
O chefe da segurança presidencial foi convocado em função da aparente facilidade dos assassinos para executar Moise. Hérard também é investigado na Colômbia por suas diversas viagens ao país, onde residem vários dos suspeitos detidos, e a outros lugares da América do Sul.
Mas ele não atendeu ao chamado na quarta-feira (14), segundo a agência de notícias France Presse, e o comissário de divisão Jean Laguel Civil, coordenador da segurança do presidente, também não se apresentou na terça-feira (13).
As autoridades parecem estar avançando nas investigações, e entre os suspeitos que estão foragidos está Joel John Joseph, um ex-senador haitiano.
Reunião do assassinato
O diretor-geral da Polícia Nacional do Haiti, Léon Charles, afirmou na noite de quarta que o assassinato de Jovenel Moise foi planejado em Santo Domingo, capital da vizinha República Dominicana.
Em uma foto que viralizou nas redes sociais haitianas, é possível ver dois suspeitos já detidos pela polícia e o ex-senador Joel John Joseph em uma reunião, lado a lado. Segundo o chefe da polícia haitiana, as pessoas na foto estavam planejando a execução do presidente haitiano.
"Estavam reunidos em um hotel de Santo Domingo. Ao redor da mesa estão os autores intelectuais, um grupo de recrutamento técnico e um grupo de arrecadação de fundos", disse Charles à imprensa.
"Algumas das pessoas na foto já foram detidas. É o caso do médico Christian Emmanuel Sanon e de James Solages", afirmou o chefe da polícia. "Este último coordenou com a empresa de segurança venezuelana CTU, com sede em Miami".
Na imagem também aparece Antonio Emmanuel Intriago Valera, responsável pela CTU, assim como o chefe da empresa Worldwide Capital Lending Group, Walter Veintemilla, empresa alvo de investigação por suspeita de arrecadar fundos para financiar o assassinato, segundo Charles.
Quem são os suspeitos
A prisão de Christian Emmanuel Sanon foi anunciada no domingo (11), porque parte dos colombianos detidos haviam sido contratados para fazer a sua segurança pessoal. O médico vive na Flórida, nos EUA, e entrou no Haiti em junho.
Os colombianos foram contratados pela CTU, uma empresa de segurança venezuelana que tem sede na Flórida, e a polícia chegou a Sanon após os detidos ligarem para ele quando foram cercados.
O governo colombiano está ajudando nas investigações porque parte dos detidos são militares. "São ex-soldados das forças especiais da Colômbia. São especialistas, criminosos. Esta foi uma operação bem planejada", afirmou o diretor-geral da polícia haitiana.
Metralhadoras, machetes, walkie-talkies, celulares e passaportes foram apreendidos com os suspeitos.
Jovenel Moise
Jovenel Moise foi assassinados a tiros em sua casa na madrugada de quarta-feira (7). A primeira-dama, Martine Moise, foi baleada e hospitalizada.
Gravemente ferida, ela foi transferida para Miami, nos Estados Unidos. Os três filhos do casal, Jomarlie, Jovenel Jr. e Joverlein, estão em um "local seguro", segundo as autoridades.
Moise levou 12 tiros e foi encontrado de costas no chão, coberto de sangue. O escritório e o quarto do presidente foram saqueados.
País mais pobre das Américas, o Haiti vive uma grave crise política, econômica e social, com aumento da violência e da pobreza e um recrudescimento da pandemia.
Jovenel Moise tinha dissolvido o Parlamento, governava por decreto há mais de um ano, após o país não conseguir realizar eleições legislativas, e queria promover uma polêmica reforma constitucional.
Desde que assumiu o cargo, em 2017, ele enfrentou protestos em massa contra seu governo —primeiro por alegações de corrupção e por sua gestão da economia, depois por seu crescente controle do poder.
Em fevereiro, autoridades do país disseram ter frustrado uma "tentativa de golpe" de Estado contra o presidente, que também seria alvo de um atentado malsucedido.
Pobreza extrema
O Haiti é a nação mais pobre das Américas e tem um longo histórico de ditaduras e golpes de Estado. Nos últimos meses, enfrentava uma crescente crise política e humanitária, com escassez de alimentos e violência nas ruas.
O PIB per capita do país é de US$ 1,6 mil por ano (cerca de R$ 8,5 mil), e cerca de 60% da população vive com menos de US$ 2 por dia (pouco mais de R$ 10).
O Haiti tem 11,3 milhões de habitantes, faz fronteira com a República Dominicana na ilha Hispaniola, no Caribe, e tem um dos menores IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano) do mundo: 0,51.
Colonizado em 1492, após a chegada de Cristóvão Colombo à América, o Haiti foi o primeiro país do continente a conquistar a sua independência e a primeira república a ser liderada por negros, quando derrubou o domínio francês no começo do século XIX.
O país já foi invadido e sofreu intervenção dos EUA no século XX e tem um longo histórico de ditadores, como François "Papa Doc" Duvalier e seu filho, Jean-Claude "Baby Doc". A primeira eleição livre do país ocorreu em 1990, mas Jean-Bertrand Aristide foi deposto por um golpe no ano seguinte.
G1
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