Outubro 02, 2024

'Ação de hackers teve transações pecuniárias', diz Bolsonaro ao atacar Greenwald Featured

O presidente Jair Bolsonaro voltou a atacar nesta segunda-feira o jornalista Glenn Greenwald , do site The Intercept Brasil. Em entrevista na porta do Palácio da Alvorada, ele disse que invasão de telefone é crime e a condição de jornalista, apesar da garantia constitucional do sigilo da fonte, não é desculpa para "preservar o crime". Um dos suspeitos presos pela Polícia Federal na semana passada disse em depoimento que repassou conteúdo extraído do Telegram de autoridades para o Intercept. Greenwald respondeu que Bolsonaro não entende ou a Constituição brasileira ou o fato de não ser "juiz ou ditador".

O site vem publicando desde o mês passado mensagens trocadas entre procuradores da República e o ex-juiz Sergio Moro, atual ministro da Justiça no governo Bolsonaro. Segundo as reportagens, Moro orientou os procuradores , deixando de atuar com imparcialidade nos processos da Operação Lava-Jato. A PF prendeu quatro suspeitos de invadirem os telefones dos procuradores e outras pessoas. O hacker Walter Delgatti Neto disse que enviou o conteúdo ao site de forma anônima e sem receber qualquer pagamento, algo de que Bolsonaro disse desconfiar.

— No meu entender, isso teve transações pecuniárias. A intenção é sempre atingir a Lava-Jato, o Sergio Moro, a minha pessoa, tentar desqualificar, desgastar. Invasão de telefone é crime, ponto final. Não pode se escudar: "sou jornalista". Jornalista tem de fazer seu trabalho. Preservar sigilo da fonte, tudo bem. Agora, uma origem criminosa, o cara vai preservar o crime, invadindo a República, desgastando nome do Brasil, lá fora inclusive. Eu espero que a PF, não é fácil, mas chegue aos finalmentes desse crime praticado por essas pessoas — disse Bolsonaro, sem citar nominalmente Greenwald.

Os jornalistas do Intercept destacam o direito de manterem a fonte do material em sigilo. Eles defendem a publicação das mensagens obtidas que tenham interesse público. Pelo Twitter, Greenwald disse que Bolsonaro não entende a Constituição brasileira.

"O presidente do Brasil, aparentemente com poucos problemas nacionais para resolver e pouco para fazer, deu outra entrevista nesta manhã me atacando e sugerindo que sou culpado de crimes. Eu não acho que ele entenda a) a Constituição ou b) que ele não é juiz nem ditador", respondeu o jornalista, em inglês.

No sábado, em outra entrevista à imprensa, o presidente foi questionado sobre a portaria que permite deportação sumária de estrangeiros . Ele disse que Greenwald, que nasceu nos Estados Unidos, "talvez pegue uma cana aqui no Brasil , não lá fora", mas destacou que o jornalista não se encaixa no perfil dos que podem ser deportados.

— Eu teria feito um decreto porque quem não presta tem que mandar embora. Tem nada a ver com esse Glenn. Nem se encaixa na portaria o crime que ele está cometendo. Até porque ele é casado com outro homem e tem meninos adotados no Brasil. Malandro para evitar um problema desse, casa com outro malandro ou adota criança no Brasil. O Glenn não vai embora, pode ficar tranquilo. Talvez pegue uma cana aqui no Brasil, não vai pegar lá fora não — disse Bolsonaro no sábado.

Na ocasião, Greenwald rebateu o que chamou de "tese insana" do presidente e associações de jornalistas saíram em defesa do editor do Intercept.

"Ao contrário dos desejos de Bolsonaro, ele não é (ainda) um ditador. Ele não tem o poder de ordenar pessoas presas. Ainda existem tribunais em funcionamento. Para prender alguém, tem que apresentar provas para um tribunal que eles cometeram um crime. Essa evidência não existe", ressaltou Glenn no Twitter, neste sábado.

O Globo
Portal Santo André em Foco

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