Outubro 02, 2024

'Não vai ter lockdown', diz Bolsonaro após Brasil registrar 4,2 mil mortes em um dia Featured

Um dia após o Brasil registrar 4,2 mil mortes nas últimas 24 horas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) criticou nesta quarta-feira (7) a adoção de medidas restritivas para tentar frear o avanço da Covid-19 no Brasil e afirmou que não haverá um lockdown nacional. A declaração foi dada durante uma visita a Chapecó, no Oeste catarinense.

As ações para restringir a circulação de pessoas têm sido defendidas por autoridades sanitárias para enfrentar a pandemia no país, que vive seu maior pico e responde hoje por um em cada três mortos pelo novo coronavírus no mundo.

"Seria muito mais fácil a gente ficar quieto, se acomodar, não tocar nesse assunto, ou atender, como alguns querem, que eu posso fazer, o lockdown nacional. Não vai ter lockdown nacional", afirmou Bolsonaro.

Para ele, é preciso buscar "alternativas" às medidas de distanciamento social, como o fechamento do comércio. "Vamos buscar alternativas, não vamos aceitar a política do fique em casa, feche tudo, lockdown. O vírus não vai embora. Esse vírus, como outros, vieram pra ficar, e vão ficar a vida toda. É praticamente impossível erradicá-lo".

Durante o evento, que ocorreu no Centro de Eventos da cidade, todos utilizavam máscara de proteção. Em seu discurso, Bolsonaro voltou a defender o chamado "tratamento precoce", com o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença e que, segundo a Associação Médica Brasileira, deveriam ter seu uso contra a Covid banido.

"Eu não sei como salvar vidas, eu não sou médico, não sou enfermeiro, mas eu não posso escolher a liberdade do médico ou até mesmo do enfermeiro. Ele tem que buscar uma alternativa para isso", afirmou.

Em diversos momentos do seu discurso, o presidente defendeu que os médicos tenham autonomia e liberdade para escolher o tratamento a ser aplicado, inclusive com medicamentos sem comprovação para a doença.

"Não podemos admitir impor limites ao médico. Se o médico que não quiser receitar aquele medicamento, que não receite. Se outro cidadão qualquer acha que aquele medicamento está errado, não está certo porque não tem comprovação científica, que não use, é liberdade dele. O off-label, fora da bula, é o remédio 'pro' paciente. Hoje, têm aparecido medicamentos que ainda não estão comprovados, que estão sendo testados, e o médico tem essa liberdade. Tem que ter. É um crime querer tolher a liberdade de um profissional de saúde", disse.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, também fez um discurso alinhado ao do presidente. Ele relacionou a autonomia dos médicos com a recuperação dos pacientes e elogiou o sistema aplicado em Chapecó:

"O presidente me deu autonomia para, no Ministério, construir uma equipe técnica com o objetivo de implementar políticas públicas e, conforme a Constituição Federal, é um direito de todos e um dever do Estado. Essas políticas públicas têm que atender a todos, independente de orientação política, e elas têm que chegar a cada um dos 220 milhões de habitantes", explicou o ministro.

Além disso, ele também falou sobre a implementação da campanha de vacinação contra a Covid-19 e os trabalhos para constituir um complexo industrial para ter autonomia na produção de insumos. "Hoje o Brasil já tem acertado mais de 500 milhões de doses de vacinas e nas mais de 37 mil salas de vacinação espalhadas em todo o Brasil nós já vacinamos todos os dias 1 milhão de brasileiros", disse.

Celebrações religiosas
Bolsonaro citou o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) de permitir celebrações religiosas coletivas em todo o país e defendeu que a liminar seja mantida ou haja pedido de vista.

"90% da população - um pouco mais - acredita em Deus e, acreditando em Deus, eu espero que, daqui a pouco, como está previsto o Supremo Tribunal Federal julgar a liminar do ministro Kássio Nunes, ou que a liminar seja mantida ou que alguém peça vistas para que nós possamos discutir um pouco mais a abertura ou não de templos religiosos", afirmou.

Forças Armadas
O presidente também negou o apoio das Forças Armadas aos governadores nas medidas restritivas de isolamento. "O nosso Exército brasileiro não vai a rua para manter o povo dentro de casa".

A justificativa para não ter restrições no país usada pelo presidente foi a liberdade dos brasileiros e também a crise econômica, por isso defendeu que o Brasil "não vai parar para empobrecer mais". "Eu não fico feliz em conceder auxílios. Gostaria que não fosse necessário isso, mas é para evitar o mal maior. Eu tenho dito, temo por problemas sociais gravíssimos no Brasil. Converso com as Forças Armadas, se eclodir isso pelo Brasil, o que nós vamos fazer, temos efetivo para conter?", disse.

"Temos que estudar Chapecó, temos que ver as medidas tomada pelo prefeito e pela governadora [...]. O problema está aí, soluções algumas aparecem como a de Chapecó outras virão. Temos que ter coragem para decidir se ficar parado esperando solução o problema além desse do vírus, teremos outro do desemprego que leva a depressão, leva a falta de esperança, leva a que outras doenças sejam agravadas", disse. Também afirmou que nenhuma das decisões visa as eleições presidenciais de 2022.

Recepção e visita de trabalho
A governadora em exercício do Estado, Daniela Reinehr (sem partido), foi quem recebeu a comitiva presidencial no aeroporto Serafim Enoss Bertaso e acompanhou toda a visita. A secretária de Estado da Saúde, Carmen Zanotto (Cidadania), também participou do evento.

O encontro ocorreu no centro da cidade criado para para enfrentar o colapso no sistema de saúde em fevereiro por falta de leitos para tratamento da Covid-19. No sábado (3), com a transferência do último paciente do local, a estrutura, que tinha 75 vagas, foi desativada (veja a escalada da doença na cidade mais abaixo).

O incentivo da administração municipal ao chamado "tratamento precoce" contra o coronavírus, mesmo sem eficácia comprovada, fez Bolsonaro elogiar a gestão em Chapecó também no início da semana. Na ocasião, ele anunciou a visita para Santa Catarina.

Aceleração da pandemia em 2021
Elogiada por Bolsonaro pelo trabalho de combate ao coronavírus, a cidade soma mais mortos pela Covid-19 do que a média nacional e estadual. A taxa de mortalidade por 100 mil habitantes da doença no município é de 240,6, enquanto no Brasil é de 160,3. Já em Santa Catarina, índice está em 161,2. Os dados são do Ministério da Saúde desta quarta-feira (7).

Das 339 mortes registras pela doença até a noite de terça-feira (6), 76% ocorreram em 2021. Foram 415 óbitos entre janeiro e abril. Desde o início da pandemia até dezembro de 2020 o município havia registrado 124 mortes.

Com o colapso na saúde, o município de 224 mil habitantes suspendeu as atividades não essenciais por 14 dias no fim de fevereiro. Alguns serviços, como restaurantes e mercados, que puderam ficar abertos tiveram mudanças no horário de funcionamento e redução da capacidade de clientes.

Nas últimas semanas a cidade registrou diminuição do número de casos ativos de coronavírus e de pacientes com a doença fila por UTI. O prefeito Rodrigues atribuiu a melhora da situação da pandemia à testagem rápida, tratamento imediato e medidas de restrição e fiscalização.

"Nós tratamos imediatamente todos os pacientes com a testagem rápida que fizemos. Nós não fizemos lockdown em Chapecó, nós fizemos uma paralisação parcial da cidade por 14 dias em fevereiro para montar os equipamentos. Então, tudo tem ajudado", defendeu Rodrigues.

Em 5 de março, a cidade tinha 3,2 mil casos ativos da doença. Na segunda (5), eram 620 pessoas em tratamento, segundo o governo estadual.

Visitas do presidente a SC
Jair Bolsonaro visitou o Estado sete vezes como presidente. A passagem mais recente foi há dois meses, para uma cerimônia do Ministério da Cidadania em Florianópolis, na Academia Nacional da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Antes disso, ele passou férias em São Francisco do Sul, no Litoral Norte, por duas vezes, uma antes do Natal em 2020, e outra no carnaval deste ano.

Em novembro do ano passado, o presidente voltou a prestigiar a formatura da PRF na Capital. No mês de julho do ano passado o presidente esteve na região da Grande Florianópolis após a passagem do ciclone-bomba que atingiu 185 cidades catarinenses e causou estragos severos em várias regiões.

A primeira visita ao Estado como presidente foi em maio de 2019, quando esteve em Camboriú para a abertura do Congresso dos Gideões.

G1 PB
Portal Santo André em Foco

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