Novembro 05, 2024

Maioria do STF vota para manter aberto inquérito das fake news Featured

Oito dos onze ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) votaram pela legalidade do inquérito instaurado no ano passado para investigar a disseminação de notícias falsas e ataques a integrantes da Corte. O julgamento foi interrompido para ser retomado na quinta-feira. Se, ao final, a maioria for confirmada, o inquérito continuará aberto, desde que trate apenas de ameaças e difamação a membros do Supremo e familiares, bem como de mensagens contrárias à democracia.

Segundo os ministros, a liberdade de imprensa e postagens em redes sociais não podem ser alvo da investigação, a não ser que sejam impulsionadas por financiamento ou esquema de divulgação em massa. Nos votos, os ministros lembraram que liberdade de expressão é diferente de ameaças e ofensas.

— Liberdade de expressão não se confunde com ameaça, com coação, com atentado. A Constituição consagra o binômio liberdade com responsabilidade. A Constituição não permite que criminosos se escondam sob o manto da liberdade de expressão utilizando esse direito como escudo protetivo para o discurso de ódio e a prática de atividades ilícitas. Liberdade de expressão não é liberdade de agressão, liberdade de expressão não é liberdade de destruição da democracia, das instituições e da honra alheia — afirmou Alexandre de Moraes, relator do inquérito.

— Liberdade de expressão não pode ser biombo para criminalidade e para impunidade — disse Cármen Lúcia. — É contra o Poder Judiciário qualquer ato que atente contra a condição de segurança física ou psíquica de um juiz.

— Não se trata de liberdade de expressão. O uso orquestrado de robôs para divulgar ataques ao STF passa longe da mera crítica — declarou Gilmar Mendes.

Está em julgamento uma ação da Rede Sustentabilidade que pede o arquivamento do chamado inquérito, por irregularidades na forma como foi instaurado. O partido questionou o fato de a Procuradoria-Geral da República (PGR) não ter sido consultada antes da abertura do inquérito. Outro ponto foi o presidente do tribunal, Dias Toffoli, ter escolhido Moraes para conduzir o caso, em vez de sortear um relator, como é a praxe.

O relator da ação, ministro Edson Fachin, votou na semana passada, em defesa da legalidade do inquérito. Nesta quarta-feira, votaram no mesmo sentido Alexandre de Moraes, que é relator do inquérito das fake news, Luís Roberto Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes. Na quinta-feira, o julgamento será retomado com os votos de Marco Aurélio Mello, Celso de Mello e Dias Toffoli.

Moraes garantiu não há nas apurações caso de simples xingamento aos ministros, ou críticas às decisões. Segundo ele, 72 trechos das investigações já foram encaminhados para a primeira instância do Judiciário, porque tratam de suspeitos sem direito ao foro privilegiado. O ministro citou exemplos de agressões e ameaças feitas aos ministros do STF por meio da internet que são alvo do inquérito.

— Eu peço redobrada atenção para algumas frases duras que vou ler, de algumas agressões e ofensas feitas aos ministros do STF para que se pare de uma vez por todas de se fazer confusões de críticas, por mais ácidas que sejam, que devem existir e continuar, com agressões, ameaças e coações. A primeira: ‘Que estuprem e matem as filhas dos ordinários ministros do STF’. Em nenhum lugar do mundo isso é liberdade de expressão. Isso é bandidagem, isso é criminalidade, postagem realizada por uma advogada do Rio Grande do Sul incitando o estupro, a violência sexual contra filhas de ministros do STF — declarou.

O ministro também citou como exemplo a seguinte mensagem: “Quanto custa atirar à queima-roupa nas costas de cada ministro filho da puta do STF que queira acabar com a prisão da segunda instância. Se acabarem com a prisão em segunda instância, só nos resta jogar combustível e tocar fogo no plenário do STF com ministros barbies dentro”. E completou: “Já temos em poder armas e munição de grosso calibre. Esconda seus filhos e parentes bem escondido na Europa, porque aqui não vai ter onde se esconder. Faremos um tribunal em praça pública com direito ao fuzilamento de todos os parasitas e vagabundos estatais”.

Também nos votos, os ministros concordaram que o Ministério Público não tem exclusividade na abertura de inquéritos. Eles ressaltaram que o Regimento Interno do STF prevê possibilidade de instauração de investigação pelo presidente do tribunal para apurar agressões e ameaças à integridade da Corte e de seus integrantes. Eles também esclareceram que, nesses casos, o presidente do STF indica o relator.

O inquérito das fake news ganhou os holofotes há três semanas, quando Moraes determinou buscas e apreensões em endereços ligados a bolsonaristas. O governo criticou o ministro pela operação, o que deixou ainda mais áspera a relação do STF com o Palácio do Planalto.

O Globo
Portal Santo André em Foco

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