Ao mesmo tempo em que começou a flexibilizar a quarentena adotada tardiamente, no fim de março, o México registrou, nesta quarta-feira, mais de mil mortes por dia, atrás apenas do Brasil em vítimas fatais por Covid-19 na América Latina. Como o presidente Jair Bolsonaro, André Manuel López Obrador optou pelo negacionismo, minimizando a ação do novo coronavírus quando a pandemia deu seus primeiros sinais no país.
O presidente estimulava os mexicanos a levarem vida normal, fora de casa, por pertencerem a “uma etnia forte que consegue vencer vários tipos de peste”. Abraços e reuniões familiares eram incentivados. “Não vai acontecer nada”, assegurava.
Aconteceu o pior. No fim de março, López Obrador, conhecido também por suas iniciais AMLO, capitulou e confinou a população em casa durante dois meses. O México registra 101.238 casos de Covid-19 e 11.729 mortos. As estatísticas, contudo, não são confiáveis e não refletem a realidade.
O vírus circula ativamente no país, infectando uma média de 3.900 novos doentes por dia. No ranking da Universidade Johns Hopkins, o país de 130 milhões de habitantes ocupa o oitavo lugar entre países com mais mortos e o 14º em número de infectados.
O governo rechaçou o programa de testagem em massa, sob o pretexto de ser caro e inútil, de acordo com o subsecretário de Saúde, Hugo López- Gattel, que lidera a força-tarefa do coronavírus. Dele vem também a previsão de que o número de mortos poderá chegar a 30 mil.
Mas o prognóstico é pior: sem dados, não há controle sobre a doença. Um levantamento de certidões de óbito realizado pela ONG Mexicanos Contra a Corrupção e a Impunidade entre 18 de março e 12 de maio constatou que o número de mortes por suspeitas de Covid-19 na Cidade do México é o triplo do que divulgado pelo governo.
As mortes pela doença só são contabilizadas se ocorrerem em hospitais. No Estado do México, laboratórios têm capacidade de analisar apenas mil exames diários, e a fila de espera é gigantesca.
Outra investigação, do jornal espanhol “El País”, mostrou que oito entre dez mortos não ingressaram na UTI, sequer foram intubados. Dados conflitantes e defasados não permitirão ao México construir um histórico do novo coronavírus no país.
G1
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